sábado, 17 de janeiro de 2009

A metáfora da flor de lótus


Eu pessoalmente sempre achei a metáfora da flor de lótus (ou do "lôto", como era dito) deselegante.

Em que sentido, deselegante? Como todos sabemos, o lótus, ou melhor dizendo, a flor do lótus, tem suas raízes no chão lodoso de lugares com água parada. A flor sobe e desabrocha acima da superfície da água, e por causa de propriedades de textura e superfície das suas pétalas e folhas a água - e consequentemente o lodo - não "gruda" na flor, nas suas pétalas.

(Tal propriedade das folhas do lótus tem sido estudada há muito tempo e provavelmente proporcionará, em breve, tecidos realmente impermeáveis.)

Ora, é uma metáfora para uma ascenção, uma purificação espiritual. Para algo que vai das profundezas inferiores - do lodo - e se "eleva" às alturas superiores, limpo e puro de toda "impureza".

Soa, evidentemente, muito platônico.

É bonita, a metáfora, de um ponto de vista relativo. Se se deseja purificação, elevação, ela tem a sua força. Mas e o lodo, então, é somente isto? Impuro, sujo, fétido, cheio de insetos e larvas, para quem é um lar maravilhoso?

Ora, a flor de lótus é uma forma de lodo que subiu aos céus e está sentada à direita do sol todo poderoso. Nada mais do que isto.

Vamos brincar um pouco com as metáforas, então? Diz-se que um "monge" zen, um estudante do zen, é como as nuvens e a água; segue a natureza da água, não se gruda em nada, flui na medida do vento e das montanhas. Ele é a água que pode parar em um baixio e formar lodo, pelo qual o lótus passa incólume e seco. E lá vai subindo o lótus, rumo à iluminação!

Do sol, é claro.

Um comentário:

  1. Quando eu fui ao Busshinji em Dezembro comprei empolgadíssimo uma flor-de-lótus de um vendendor de rua na Liberdade. Seguindo o conselho dele, coloquei a flor num pote com água limpa, apesar de ter ficado desconfiado que a água era limpa demais para a flor-de-lótus. Resultado: rapidamente a flor apodreceu e morreu...

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