quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O desafio - ocidental - do lótus

Com a prática do zazen acabamos, de um modo ou de outro, tendo um conhecimento amador de biomecânica. Especialmente se você é uma pessoa com tendências a pensar obsessivamente, como eu. Ficar analisando os vetores durante o zazen não é zazen.

Com o tempo, também, torna-se evidente que a maior parte dos problemas "físicos" que temos durante o zazen é por causa da postura, da "má" postura. É evidente que a postura corporal e a "mente" estão de alguma forma relacionados, e podemos deduzir algo da cabeça de alguém, por exemplo, na sua postura do zazen.

Tem gente que diz que, dependendo do lado do corpo, pode estar relacionado com um aspecto da vida, profissional, amoroso. Agnosticamente não sei. Até mesmo a especialização hemisférica do cérebro está relacionada mais com aspectos cognitivos do que posturais. Há dados anedotais interessantes, porém, como a idéia - ainda não se se real - que quem se perde em um deserto, sem saber orientar-se, anda em círculos, pois um lado do corpo "puxa" mais que outro. No meu caso eu tenho certeza que seria assim, pois de saída tenho uma perna um pouco mais longa. Outro: vê-se que as pessoas em um quadro esquizofrênico cambaleiam mais para um dos lados, se não me engano o esquerdo.

Por "má" postura não queremos dizer que, necessariamente, a sua postura é ruim durante o cotidiano: pode ser, em muitos dos casos, mas não necessariamente. Cada caso é um caso, e cada um tem os seus problemas; uns originados pelo trabalho físico, outro por 8 horas por dia diante do computador, outro por problemas de saúde.

Imagine o que umas poucas horas na mesma postura, com o ombro direito levemente puxado para a frente, por causa da mão que segura o mouse, deve fazer. Assim, exatamente como estou agora.

Mesmo, porém, sendo você a Sophia Loren, pode não ter uma boa flexibilidade na parte mais importante para um boa postura no zazen: os quadris.

No final das contas, os quadris são o elemento crucial para a famosa e terrível e assombrosa postura do lótus (completo), a padmāsana do yoga, 結跏趺坐 (kekkafuza) nas palavras de Dōgen zenji; a postura mais estável possível. Como no zazen procuramos a postura ereta - ombros e orelhas na mesma linha, nariz e umbigo na mesma linha - pelo maior tempo possível, sabemos por experiência que a postura faz a diferença.

E, também, a postura do lótus é belíssima.

Sentar na postura do lótus não é puxar os pés para que fiquem engatados acima da coxa. Isso é o que a maioria das pessoas tenta fazer para mostrar o lótus, e dependendo da flexibilidade - no joelho, calcanhar - funciona melhor para uns, não muito para outros. Não é preciso dizer que somos idiotas se tentarmos forçar deste modo, o joelho é uma articulação rancorosa e não perdoa.

Está tudo nos quadris. Mulheres têm mais facilidade por ter um quadril diferente dos homens.

Mas isto não vale somente para a postura do lótus. Se valesse, eu não estaria dizendo nada dela aqui, pois pouquíssimos são os que a utilizam. Quase todas as posturas que utilizamos durante o zazen exigem uma abertura dos quadris, e a boa postura depende disto, de uma boa base. Se não houver esta boa base - se há algum desnível, um lado que escorrega mais, uma perna mais tensa - toda a postura sente.

Yōkō proporciona, todos os dias de prática de zazen, umas duas horas antes (17:30), algumas posturas de yoga para melhorar a postura do zazen. Todos estão convidados a fazer uma visita.

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