sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Feito à mão

Oficialmente, Florianópolis entra na estatística de furtos de rakusu. Ao que me consta, já foram dois - contando o furto do meu, esta noite - no espaço de um ano. Como estatística de dois já é, por definição, estatística - embora uma péssima -, ei-la.

Até que não foi tão difícil explicar, durante o relato do BO, o que era um rakusu, como calhou de ser com o nosso colega Seidō. O policial de plantão foi, no finalzinho do nosso chitchat, chamado para um caso de sequestro de uma criança. Simplesmente, então, escreveu o que ditei: "uma miniatura de um manto Budista da cor preta com escrita em Japonês".

Até quis adicionar "parecido com um babador", mas isto não é linguagem que se utilize em um BO... ou é?

E que venham os retalhos!

sábado, 22 de agosto de 2009

Para mim, e a quem servir o chapéu

Você vive a reclamar e a praguejar
contra o inúmero número de thousand
natural shocks that flesh is heir to;
o nariz que escorreu ontem de noite, o
olho que lacrimeja frente ao vento do
inverno, as dores inescrutáveis, e o
rangido do maquinário. Mas e quando tudo
está azeitado, nenhuma palavra atenta a
agradecer; no máximo um suspiro de alívio
por você. Seu idiota. O resfriado de
ontem, o vigor de hoje; todos viajantes.
Gostaria de, no final das contas, nada
ter a escarnecer ou agradecer; então
dias tranquilos de resfriado virão.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fukanzazengi

Abaixo, algumas primeiras linhas do texto do Fukanzazengi (普勧坐禅儀) de Dōgen Zenji, interpolado.

Na primeira linha temos o texto “original” (原文), que não sei de qual das versões é (shinpitsu- ou rufu-bon, provavelmente a última) encontrado aqui.

Na segunda linha está a frase acima em japonês moderno, encontrado também aqui e em um folheto da CZBF; os parênteses são a leitura em hiragana dos ideogramas anteriores, uma alternativa ao furigana.

Abaixo a romanização (da segunda linha), tirado do mesmo folheto. Os colchetes indicam divergências: os [] indicam texto do folheto que difere (da outra fonte) do caractere imediatamente precendente, e os {} apresentam texto da página online que difere do folheto da mesma forma.

A quarta linha é a tradução do pessoal de Antai-ji, e a quinta linha é a tradução em português do pessoal do Busshin-ji. Várias outras traduções estão disponíveis.

原夫道本圓通、爭假修證。
原(たず)ぬるに[、]夫(そ)れ道本円通(どうもとえんづ[ず]う)、争(いか)でか修証(しゅしょう)を仮(か)らん。
tazunuru ni sore dō moto en zū, ika de ka shushō o karan.
The Way is originally perfect and all-pervading. What need is there for practice and realization?
Quando se busca a fonte do caminho, percebe-se que ele é absoluto e tudo permeia. É desnecessário distinguir entre “prática” e “iluminação”.

宗乘自在、何費功夫。
宗乗(しゅうじょう)自在[、]何ぞ功夫(くふう)を費(ついや)さん。
shū jō ji zai nan zo ku fū o tsuiya san.
The Dharma vehicle is rolling freely. Why should we exhaust our effort?
O ensinamento supremo é livre, então por que estudar os meios para alcançá-lo?

況乎全體逈出塵埃兮、孰信拂拭之手段。
況んや全体逈(はる)かに塵埃(じんない)を出(い)づ[ず]、孰(たれ)か払拭(ほっしき)の手段を信ぜん。
iwan ya zan tai haru ka ni jin nai o izu, tare ka hosshiki no shu dan o shin zen.
There is no speck of dust in the whole universe. How could we ever try to brush it clean?
O caminho é, desnecessário dizer, muito diferente da delusão. Por quê, então, preocupar-se com os meios de eliminá-la?

大都不離當處兮、豈用修行之脚頭者乎。
大都(おおよそ)当処(とうじょ)を離れず、豈{に}修行の脚頭(きゃくとう)を用ふる者[もの]ならんや。
ō yoso, to jō o hanarezu, a ni shu gyō no kyakutō o mochi uru mono naran ya.
Everything is manifest at this very place. Where are we supposed to direct the feet of our practice?
O caminho está completamente presente onde você está, então para que servem a prática e a iluminação?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Flávio Jōshin


Flávio era meu amigo.

Ele me ensinou a sentar como uma montanha. Ele me ensinou que há perguntas prementes a serem respondidas.

Ele me ensinou a praticar.

(....)

Lembro-me dele, recentemente; em zazen, escutava o jogo dos sinos na rua. Ele pisa na soleira do zendo e declara, com voz forte: "praticantes, vida e morte são assuntos importantes". Lembro-me de quando comecei a praticar - tão pouco tempo! - e de como ele me impressionou como praticante. Eu tinha sempre uma carona certeira com ele, e estes dias, voltando de um sesshin, ele brincava: "eu sou uma mãe para você" - referindo-se aos inúmeros quilômetros rodados. Depois, explicava-se: é assim que nós fazemos, você precisa agora, um dia você dará carona para outros.

Com certeza, Flávio, com certeza. Flávio era meu amigo e ele me ensinou muita coisa.

(mensagem mandada por mim para a lista ZenSul em 30 de agosto de 2008, logo depois de saber da morte do Flávio)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Anotações

Então, Al Gore faz gasshō em uma TED Talk. As TED Talks são uma das melhores coisas que se pode ver no youtube.com; as pessoas mais interessantes já fizeram os seus poucos minutos por lá, algumas mais de uma vez.

No meu mundinho, ser convidado para participar de uma deve ser bem divertido. Eu ia dizer "uma grande honra", mas deve ser mais divertido que honrável.

É claro que Isabel Allende, a prometida de Pablito, deu as caras por lá e nos conta por que ainda fala de feminismo, e se diz feminista. Tales of passion; não se arrepiem, Budistas Empedernidos, um pouco de paixão nada tem de mais, especialmente com uma broa de fubá quentinha.

Ela nos conta do momento em que carregou a bandeira nas olimpíadas de inverno de 2007, juntamente com outras notáveis mulheres, como Sophia Loren que, altiva, imitava a Liberdade conduzindo os homens - e Isabel Allende entre as suas pernas nas fotografias.

Perguntada sobre o segredo de ser bonita e uma velha senhora - rá -, Sophia responde: postura. E não fazer barulhos de gente velha.

Sophia, aguardamos você hoje, quarta-feira, às 19:30 horas, na CZBF.

*****

Encontrei ontem, ao limpar meus papéis, algo que achei, tristemente, que tinha perdido: as minhas anotações curtas da palestra que o sensei/roshi (dúvida que seu çaite não dirime) Shohaku Okumura deu, no rohatsu sesshin de 2008 no Busshin-ji, em São Paulo.

As palestras foram sobre os 16 preceitos, ou mais exatamente sobre os 3+3+10 preceitos no zen. Tomando quatro textos como referência - um sutra sobre as quatro "ofensas" parajika, o sutra da rede de Brahma, os comentários de Bodhidharma sobre os preceitos e o Ryaku Fusatsu de Dōgen - Okumura roshi falou sobre os preceitos e sobre a sua evolução, se assim podemos dizer, através dos vários autores.

A minha anotação, refiro-me a ela no singular, pois na verdade ela é uma anotação sobre um preceito específico com o qual, exatamente, eu tenho as minhas conversas e divergências.

Claro que se trata da "regra de treinamento de abster-me de comercializar e consumir bebidas alcoólicas/intoxicantes", como está no texto original em páli.

Bem, comercializar... tudo bem, mas abster-se?

Todos sabemos, porém, que o preceito expandiu-se e diz atualmente o seguinte: tomo o voto de abster-me de substâncias que alterem a consciência. Eu vou pular toda a discussão sobre o que seria uma droga ou não, o que seria vício ou não, pois no meu mundinho particular estamos também envolvidos em um mar de "drogas" e "vícios", pois em muitos casos, realmente, o valor está nos olhos do "vedor". Sabe aquele potinho de nescau que você tem no seu armário? Então. Aquelas partidinhas básicas de paciência spider para desanuviar? Ih.

O Adversário vos espreita de todos os lados, dê o nome que quiser - Satã, Mara, ______ (insira seu nome aqui - não, não o seu nome, o nome que você quiser dar!)

Mas, somente para pensar, pensemos na famosa ambiguidade das palavras pharmakon e droga.

Enfim, o que vou me abster por hoje é de entrar em um clima confissional. Estou me sentindo muito pouco augustiniano hoje, e não vou contar quantas pêras eu roubei do vizinho - no meu caso, goiabas, e não do vizinho.

A questão é que todas - a maioria, pelo menos - das regras monásticas (do vinaya) têm uma historieta por trás: a maioria das vezes é algum bhikku que faz algo não muito proveitoso e uma regrinha surge para evitar tais atos no futuro. Evidentemente todas elas têm um sentido muito pragmático, mensurada pelas consequências do ato, especialmente naquele contexto. Prestes a morrer, o Buda dá como conselho a Ananda que as regras "menores" de até então podem ser abolidas - e como Ananda não perguntou quais eram, todo mundo decidiu abolir nenhuma.

Mas, ao falar dos "preceitos", não estamos falando das regras do vinaya. Todas as regras do vinaya têm como corolário o fato de serem "regras de treinamento", i.e. regras de conduta para quando uma pessoa estiver "em treinamento" monástico. Os preceitos aqui falados são os preceitos que são "tomados" por qualquer um que pratique o budismo, monge ou leigo. Especificamente, referem-se aos preceitos tomados na "ordenação leiga" (jukai) no zen.

Sabendo, por experiência(s) própria(s), que o consumo de "substâncias que alteram a consciência" podem ter, como consequência, um descuidado, uma falta de atenção, desconsideração e agir de forma que nos arrependamos mais tarde (o que a partir deste momento eu chamarei apenas de heedlessness), é bom-senso que observemos este processo e evitemos de entrar nele despreparadamente e descuidadamente.

Quer dizer: pode ser possível embebedar-se - e demais quetais - sem cair em heedlessness?

Quando criança eu tinha dores de barriga e problemas intestinais por comer goiabas verdes - as "verdurangas", como eu as chamava. Adorava. Adorava comer trevinhos e azedinhas, também. Comia um monte de verdurangas e depois não conseguia comer mais nada, e passava mal. Mas nunca prometi que ia parar de comer verdurangas, e apesar das reclamações de criança, nunca fiz algo do qual me arrependesse, por causa delas. Talvez tenha incomodado algumas pessoas - mãe, pai, etc. - mas nunca propositadamente. As goiabas eram verdurangas, e isto é tudo.

A resposta para a questão anterior é "parece que sim". O caso clássico, para o Ocidente, é o de Sócrates, que dizia-se que nunca se embebedava, por mais que bebesse. O Banquete termina com todos os convivas - que beberam de menos, por estarem todos de ressaca pela bebemoração da vitória de Agatão na noite anterior - sonolentos e dormindo, o sol quase raiando, enquanto Sócrates ainda conversa com os poucos acordados e sóbrios o suficiente. Depois, tendo amanhecido e todos dormido, ele vai para o Liceu se lavar e parte direto para um novo dia normal.

Mas a questão que coloquei não procura por uma suposta resistência ao álcool. Isto não é "privilégio" de muitos, e enfim, vivemos na era das designer drugs: daqui a pouco surgirá o álcool que embebeda menos e não provoca enjôos, o café que provoca menos arritmias e frio nas mãos, a maconha que não provoca lapsos de memória. Quem já viu as pessoas que não sentem dor (fisiologicamente, e não casos de anestesia "psíquica") sabem que não sentir dor não é nenhum privilégio, tampouco. [aqui, aqui, aqui, aqui e aqui]

A questão da heedlessness, portanto, tem a ver sim com as "substâncias", mas não é por causa delas que a anterior necessariamente acontece: digamos que beber/comer/ver/ingerir é causa eficiente, mas não causa final, da heedlessness.

No belo videozinho abaixo, por exemplo, o filho age de forma descuidada e rude com o pai. Donde surgiu aquele tom de voz, aquela impaciência, aqueles movimentos corporais? E de onde surgiu aquele tom de voz, aquela paciência, aqueles movimentos corporais por parte do pai?

"Cuidado", aqui, pode dar a impressão de ser uma coisa estudada, extremamente racional e ponderada, mas não precisa ser. Os movimentos podem ser estudados - i.e. atentos, ponderados - como os movimentos das mãos que falei anteriormente, mas depois de um tempo eles podem se tornar naturais sem, contudo, serem descuidados. Então não pensemos que a "atenção" é somente em termos cognitivos. O próprio zazen, com o passar do tempo e com prática, torna-se mais natural sem descuidar-se.

Há. assim, historietas de mestres do zen que, depois de uma vida ensinando, vão "viver a vida adoidado"; outros que gostam de uma biritinha nas noites frias de inverno. Não são todos e são poucos, evidentemente. Maezumi roshi morreu afogado em uma banheira, depois de uma suposta bebedeira com os irmãos. Quer dizer, "ser zen" não impede você de não vomitar - e, se impedir, uma grande perda para a indústria farmacêutica - mas pelo menos pode ajudar a não fazer bafão.

O interessante é que "álcool" é aqui utilizado como paradigma de substância que altera a consciência, e por bons motivos. Um deles histórico: o álcool está por aí, em uso praticamente geral, por muito, muito mais tempo que qualquer outra coisa que tenhamos hoje em dia, inclusive tabaco e café. Estes dois últimos são muito recentes no Ocidente, praticamente desconhecidos na Índia do século V aC, um pouco mais conhecidos na China dos primeiros séculos aD e Japão de Dôgen.

Outro motivo, decorrente do primeiro, é que por ser mais conhecido, todo mundo já conhece o que acontece com as pessoas quando elas bebem, especialmente porque a maioria das pessoas já bebeu ou bebe. Isto talvez não fosse verdade antigamente, mas o é hoje em dia. "Alcoolismo" é visivelmente um problema seriíssimo, não precisando ser abstraído para ser visto; está ali do lado. Viver em um país no qual um litro de cachaça custa o mesmo que um pacote de pão de trigo o pode mostrar.

Assim, o sutra da rede de Brahma diz: "um discípulo de Buda não deve comercializar bebidas alcoólicas, ou encorajar outros a fazer o mesmo. Ele não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de vender qualquer intoxicante, pois estes são causas e condições de todos os tipos de ofensas. Como um discípulo do Buda, ele deve ajudar todos os seres sencientes a alcançar uma clara sabedoria. Se, em vez disso, ele faz com que eles tenham pensamentos distorcidos e confusos (upside-down, topsy-turvy thinking), ele comete uma ofensa Parajika."

É continuação direta, portanto, do preceito original das primeiras comunidades budistas. A questão já aparece, porém, de que o preceito está relacionado com a dupla sabedoria/ignorância: intoxicantes podem criar as causas e condições para ações insalubres, akusala. Há, aqui, um interjogo do que, em páli, é chamado de kilesa, “mancha, veneno, poluição, sujeira, intoxicação", algo que mancha e suja a mente.

O comentário de Bodhidharma sobre o preceito diz: "a natureza-una (自性, natureza fundamental) é sutil e maravilhosa, e dentro do dharma [cuja natureza] é intrinsicamente/originalmente pura, não ser cegado pela ignorância (無明, avidyā) é chamado de 'preceito de não tomar bebidas intoxicantes'".

Não é interessante? O dharma é originalmente puro. O preceito de "não tomar bebidas intoxicantes" é para não ser cegado pela ignorância. Esta ignorância, é ignorância em relação a quê? Deixo a resposta em aberto para todos nós.

A minha anotação, que se resume a apenas uma folha de caderno, relaciona-se ao comentário de Dōgen sobre o mesmo preceito. Pedi para que uma senhora ao meu lado anotasse os kanji que Dōgen usa, e sobre os quais Okumura sensei roshi falava. No texto, em português, do Ryaku Fusatsu que foi-nos distribuído, está: "Quinto. (a Ilusão) Não tomar das bebidas inebriantes. Não agarrar e nem violar, esta é a grande luminosidade da sabedoria".

Os ideogramas estão próximos desta tradução, e são

未将来(又)
mi shō rai (mo)
“não trazidos para dentro (também, ainda)”

莫教侵
maku kyo shin
“não deixe com que invadam”

Para Okumura, tal comentário de Dōgen está relacionado com uma história que envolve Huineng e Tozan. Infelizmente não pude encontrar esta história e as minhas anotações não deixam claro quem disse o quê e onde. É uma história em que um dos dois responde 96 “nãos” para a pergunta de um praticante. “96 nãos” de Tozan? De Huineng? Não sei. Entre aspas, porém, anotei a fala de um dos dois: “mesmo se ela fosse trazida para dentro, eu não teria lugar para colocá-la”.

Contentemo-nos com isto, por ora.

"O que foi isto?"

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Olha as mãos!

gasshō (合掌, gatsu+shō, isto não tem mais fim!) é, literalmente, o "mãos em prece" da sensei Coen; mãos colocadas unidas palma com palma na altura do peito, a postura de reza que gostamos ou não, dependendo da nossa experiência prévia com ela.

Pra metade do mundo esta postura de mãos - mudrā - é conhecido como añjali mudrā, o mudra de "respeito ou veneração", também podendo servir como símbolo da união não-dual, do tatha, ("suchness") e demais quetais. Também pode servir como simples cumprimento, o famoso namastê - que tem aquela tradução enorme e açucarada a la Weiss como "o D'us que habita em mim reconhece o D'us que habita em você, e vice-versa e ambos".

Ao lado, temos Al Gore em gasshō/añjali/namastê, seja por respeito, veneração, boa educação, inteligência, motivos escusos ou todas as anteriores.

Para o pessoal do yoga, o añjali mudrā pode ser utilizado em vários asanas e há a famosa surya namaskar(a), a Saudação ao Sol, que é uma excelente maneira de começar o dia e que aprendi, muitos anos atrás, em uma cobertura no Leblon, nas férias mais novela-das-oito que tive em minha vida - depois de ter encontrado uma Garoupa de 100 reais, vinda para lavar os meus pés como filha de Iemanjá, nas águas de Ipanema. Divago, mas é a pura verdade.

No budismo, aliás, há diversos mudras que podem ser conferidos nas estátuas e nas representações do Buda. Vários são usados na prática cotidiana do budismo em vários lugares, dentre eles o já mencionado mudra de veneração e o mudra de meditação (dhyāna mudrā), que faz parte do kit zazen.

Há uma importância a ser aprendida naquilo que fazemos com as nossas mãos, e como o fazemos. Na prática do zen, por exemplo, é indicado que se empregue as duas mãos, se possível - ao pegar alguma coisa, por exemplo. As mangas da roupa de um monge zen são compridas, para forçar que se preste atenção ao movimentá-las.

No aikidō, o mesmo princípio: mantenha as mãos na frente do corpo, e siga-as com os olhos.

Há a célebre imagem dos homúnculos do córtex, os dois homenzinhos distorcidos que mostram, figurativamente, a representação das partes do corpos nos córtex sensorial e motor. Mãos e lábios saem ganhando, de disparada, nos dois.

É fácil perceber a importância das mãos na nossa vida; um pouco menos fácil é pensar que, de certo modo, somos mãos ambulantes, e que as nossas mãos, além de terem tido um papel especial na evolução humana, têm uma relação deveras especial com o cérebro. E têm.