tag:blogger.com,1999:blog-1654840534085664912024-02-19T22:44:21.440-03:00Cortar em UmGaratujas do e no zen.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08963325883618336736noreply@blogger.comBlogger94125tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-65202492818599779922017-11-24T01:08:00.002-02:002017-11-24T02:43:09.015-02:00Verso da madeira<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://terebess.hu/zen/szoto/han2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Resultado de imagem para moppan zen" border="0" height="150" src="https://terebess.hu/zen/szoto/han2.jpg" width="200" /></a></div>
Uma tradução minha para (uma das versões d)o verso da madeira (<i>han</i>/<i>moppan</i>), batida ao final do último período de zazen do dia:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
生死事大</div>
<div style="text-align: justify;">
無常迅速</div>
<div style="text-align: justify;">
各宜醒覺</div>
<div style="text-align: justify;">
愼勿放逸</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Nascer e morrer, grandes questões;</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Nossa vida passa rápido, e se esvai.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Cuidado: o tempo não te espera.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Não perca o momento - desperta!</i><br />
<i><br /></i>
É dito que, quando o buraco na madeira fica tão fundo e não tem mais onde bater, o pessoal ganha um dia de folga.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/08963325883618336736noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-57951681191678204332011-08-29T18:31:00.003-03:002011-08-29T18:33:33.199-03:00Mar de ar<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZcDIMQIjhPh_pKJErdqw2HG5FLG8rE_3fIaYg7RdyNTb5Fx7hz0PDYBGt76f-q96gv2wkr9rHXkbQdYStSFC0kC9Qsxpyy29lwZMD6GYmaaOzBDNP4ZAff7-HWHGI1U0ODw3CBELQoVg/s1600/metering-clouds.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 253px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZcDIMQIjhPh_pKJErdqw2HG5FLG8rE_3fIaYg7RdyNTb5Fx7hz0PDYBGt76f-q96gv2wkr9rHXkbQdYStSFC0kC9Qsxpyy29lwZMD6GYmaaOzBDNP4ZAff7-HWHGI1U0ODw3CBELQoVg/s320/metering-clouds.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5646394152242086690" border="0" /></a>
<br /><div style="text-align: justify;">Não nos damos conta, mas vivemos em um mar de ar. Vi as árvores encalpeladas, dobrando-se ao jorro abundante de grosso vento, como algas a dançar na escuridão submarina, e percebi. Este ar úmido que penetra nos nossos pulmões, mas intimamente do que qualquer pessoa jamais penetrará, flui como a água fértil nas guelras de um ser marinho. Nossos pássaros são peixes. Há mais peixes no mar do que pássaros na terra? É mais fácil voar na água do que nadar no ar? Nós, nós somos os camarõezinhos se arrastando no fundo pedregoso. Um amigo complementa: "com muita merda na cabeça".</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-89075368328822824182011-08-22T18:59:00.006-03:002017-11-24T02:44:04.934-02:00Quatro votos do bodhisattva<div style="text-align: justify;">
眾生無邊誓願度</div>
<div style="text-align: justify;">
煩惱無盡誓願斷</div>
<div style="text-align: justify;">
法門無量誓願學</div>
<div style="text-align: justify;">
佛道無上誓願成</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Seres sem limites prometo levar à outra margem;</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>aflições intermináveis prometo extinguir;</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>portais-do-dharma, imensuráveis, prometo estudar;</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>o Caminho do Buddha, inigualável, prometo realizar.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span">Notinhas</span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span">度 - "levar à outra margem", da margem do samsara para a margem do nirvana. Traduz-se também como <i>paramita</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span">煩惱 - muitos significados. <a href="http://buddhism-dict.net/cgi-bin/xpr-ddb.pl?q=%E7%85%A9%E6%83%B1">Ver aqui (inglês, login<i> guest</i>, sem senha).</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span">學 - "estudar" envolve algo além do sentido acadêmico; trata-se de aprender e apreender, com corpo e mente, assim como aprendemos a andar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span">法門 - termo clássico usado para os vários ensinamentos buddhistas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma tradução livre dos "quatro votos". Atentem que todos os votos são "paradoxais" em sua formulação: como é possível extinguir o que nunca termina? Aqui, eles são como Aquiles e a tartaruga: uma corrida ao limite, nunca alcançado. Isto é desanimador para você? Mas porque seria? Se você, ao nascer, pensasse antecipadamente na quantidade de ar-dentro-ar-fora que tem de fazer (aprox. 250 milhões em 80 anos), não ficaria um tanto desgastado e desesperado?Mas nós não ficamos: inspiramos e expiramos a todo momento, sem pensar a respeito. Ficamos desgastados e desesperados com outras expectativas. Quando o ar nos falta, porém, onde elas estão?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os quatro votos são assim: uma promessa e uma aposta, aposta de que mesmo que seja impossível e infinito, eu vou até o fim. Mesmo que não tenha potinho de ouro atrás do arco-íris, mesmo que não sejamos recompensados pela nossa virtude. Um bodhisattva desce aos "infernos" para "ajudar" os seres, mas esta descida não deve ser vista como um ponto a mais no currículo bodhisátvico. "O que isto me trará de bom?" é a pergunta que automaticamente invalida o bodhisattva, onde quer que ele esteja.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É esta mesma mente que vê o zazen como um meio e o Despertar como um fim, e que se irrita ou não compreende os quatro votos. Os dois, zazen e Despertar, estão muito entrelaçados, evidente; resta, porém, uma pergunta na multidão: depois do Despertar, então, não é necessário mais zazen (já que conseguimos o que queríamos)? A resposta não pode partir de mim, ela parte de Dogen: a prática é <i>infindável</i>, a (com)provação sempre se <i>aprofunda</i> mais e mais. Isto te deixa tonto?</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-56570910673018744722011-08-22T18:33:00.004-03:002017-11-24T02:43:40.051-02:00Verso do moppan<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiNo0TmMy-KRo_g1iElGIu3QZ3Qv9IzmWnnufRDt-L4XP2Mt2Ivych5VJWUAqjiqbs746_LFG7rUj24M2ExGUhdgq27xkjLjUyEV3Aq1ec3FEo6ptIZixuBED-LoZt53A6DKArC5PqIsA/s1600/moppan.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5643796958337655970" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiiNo0TmMy-KRo_g1iElGIu3QZ3Qv9IzmWnnufRDt-L4XP2Mt2Ivych5VJWUAqjiqbs746_LFG7rUj24M2ExGUhdgq27xkjLjUyEV3Aq1ec3FEo6ptIZixuBED-LoZt53A6DKArC5PqIsA/s320/moppan.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; float: left; height: 172px; margin: 0 10px 10px 0; width: 131px;" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
生死事大 </div>
<div style="text-align: justify;">
無常迅速 </div>
<div style="text-align: justify;">
光陰可惜 </div>
<div style="text-align: justify;">
時不待人</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Vida e morte são grandes questões;</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>tudo passa rápido.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Gastar dias e noites é uma lástima;</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>o tempo não espera por ninguém.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esta é uma tradução livre do verso recitado no toque do <i>moppan, </i>a plaquinha de madeira da foto, encontrada em um centro de prática zen. O verso é recitado no final do dia, ao término do último período de zazen. No começo tal admoestação para "não gastar a vida" me irritava: viver a vida não é joga-la fora. Do que essa gente tinha medo ou pressa? Agora, no entanto, ouço apenas uma voz firme, porém carinhosa, que me diz "a hora é agora".</div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-28892371143967831002011-08-09T15:37:00.003-03:002011-08-09T15:42:30.203-03:00A função de um centro zen<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj906DhRqmO3aeN_D-FXuiLYNUCJ1DBka6mVlRTrAImxCqkZjmtRnuyKX8NFp_ER6zLuHVOpyh8-b-K88HiJtAT1XKGWePVmYIf5pXujhYlZlxg0WYmMU3kJ21kW449iDcE8_EV5iJ65U/s1600/joko.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 138px; height: 198px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj906DhRqmO3aeN_D-FXuiLYNUCJ1DBka6mVlRTrAImxCqkZjmtRnuyKX8NFp_ER6zLuHVOpyh8-b-K88HiJtAT1XKGWePVmYIf5pXujhYlZlxg0WYmMU3kJ21kW449iDcE8_EV5iJ65U/s320/joko.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5638928469909323570" border="0" /></a>
<br /><div style="text-align: justify;">Devo ser a vigésima sétima pessoa que posta este texto, nas últimas semanas. No problemo; o texto é bom e a autora é fabulosa. Só não é mais fabulosa, pois não a conheci pessoalmente, uma pena. Charlotte, esta é uma parte da minha homenagem a você.
<br />
<br /><blockquote><span style="font-weight: bold;">A Função de um Centro Zen</span>
<br />de uma palestra de Joko Beck
<br />
<br />Hoje eu quero falar sobre a função de um Centro Zen. De uma maneira geral, podemos dizer que é para apoiar a prática; e é claro que é verdade. Mas temos um monte de ilusões sobre Centros Zen como também temos sobre os professores. E uma coisa que tendemos a pensar é que um Centro Zen deveria ser um lugar muito agradável para mim – em outras palavras, deve ser não-ameaçador (risos). Eu acho que um bom centro deve ser bastante ameaçador às vezes! Não é função de um centro cuidar do seu conforto ou da sua vida social. Com isso não quero dizer que não devemos ter eventos sociais – eu acho que são ótimos – mas não são a principal função de um centro. A função de um Centro Zen não é prover as pessoas uma vida social. Não têm necessariamente o papel de fazê-las sentirem-se bem, e não é para fazê-las sentirem-se especiais.
<br />
<br />Essencialmente, um centro é uma ferramenta poderosa para ajudar-nos a despertar. Como uma sangha praticando em um centro, precisamos, sim, apoiar uns aos outros, mas a natureza desse apoio pode não ser exatamente o tipo de apoio que é frequentemente visto num escritório. Você sabe, o namorado de uma moça a deixa – “ô, coitadinha! Sabe, quando o MEU namorado me deixou …. ” (Risos) e lá vamos nós! Há uma atitude de “somos todos vítimas juntos nessa” que NÃO é apoio. Quanto mais praticamos, bem, tanto menos aquele tipo de apoio falso é o que se encontra num centro bom.
<br />
<br />Deve ser um lugar, então, que nos dá apoio, sim, mas que também nos desafia, e nesse sentido somos todos professores uns dos outros. Alguns dos ensinamentos mais poderoso em um Centro Zen nada tem a ver com o professor, às vezes o ensino vem de uma outra pessoa, vindo diretamente da experiência dessa pessoa. Para ser honesta, estar ciente do que a prática real é, e compartilhá-la com os outros – é isso que torna um centro um tipo de lugar diferente para se estar.
<br />
<br />Infelizmente, Centros Zen tendem a ser um pouco ego-perpetuantes: nós queremos que eles sejam maiores, melhores, mais importantes que o centro do outro cara, com certeza! Há correntes de ego muito sutis que podem circular em um Centro Zen, como em qualquer outra organização se não tivermos um cuidado especial.
<br />
<br />E algumas reflexões sobre a sangha: um ponto é crucial – quanto mais tempo as pessoas vêm praticando, menos importante deve ser o papel externo delas. E por isso eu não quero que as pessoas que vêm praticado por muito tempo presumam que elas sempre serão monitores – às vezes, sim, claro, mas quanto mais alto o aluno, mais eu quero que a sua influência seja sentida através da sua prática, e através de sua vontade de não parecer importante; e de deixar os alunos mais novos começarem a assumir algumas das posições externamente visíveis.
<br />
<br />A marca de alunos seniores é estarem trabalhando quando ninguém sabe que eles estão lá. Eu vejo pessoas trabalhando no escritório do Centro em horários estranhos, às vezes eu estou voltando das compras e eles estão trabalhando duro. Isso é um sinal de prática madura, fazer o que deve ser feito mantendo a nossa própria importância fora disso.
<br />
<br />Pessoalmente, eu estou tentando ir por esse caminho, minimizando a enorme importância dada ao papel do professor. E eu quero que isso se aplique a todos os alunos mais velhos. Então, se você sente que não está tendo a oportunidade de fazer o que você costuma fazer, ÓTIMO! Então você tem algo muito bom com o que praticar.
<br />
<br />Outra marca de um bom Centro Zen é que ele nos sacode como um todo; as coisas não acontecem da maneira como gostaríamos, de acordo com as nossa fantasias. Assim, em nossa chateação, acabamos retornando à base da prática – que é, tanto quanto eu posso colocar em palavras, assumir mais e mais a posição de um observador em nossas vidas.
<br />
<br />Com isso quero dizer que tudo em nossa vida vai continuar a ocorrer – os problemas, as dificuldades emocionais, os dias agradáveis, os altos e baixos, que são aquilo em que consiste a vida humana -, mas é a capacidade de não ser pego – de apreciar o que está acontecendo quando se é “bom”, de ter tranqüilidade quando se é “ruim” e de observar tudo isso, que é um trabalho contínuo.
<br />
<br />A marca do amadurecimento da prática é simplesmente a capacidade, mais e mais e mais, de perceber o que está acontecendo e não ser fisgado por ele. Fácil falar, mas provavelmente 15 a 20 anos de prática rígorosa serão necessários antes que nós sejamos dessa forma uma boa parte do tempo.
<br />
<br />E isso não é o estágio final. Quando não há nenhum objeto, nenhuma pessoa, nenhum evento, nenhuma coisa no mundo que me fisga, no qual eu esteja preso – quando não há nenhum objeto e nenhum self observando -, então há uma virada para o quê, para dar-lhe um nome, seria o estado iluminado.
<br />
<br />Nunca conheci ninguém que eu senti que havia alcançado isto, mas algumas pessoas têm se saído bem e, se você tiver a sorte de encontrar uma pessoa assim, você sentirá a diferença que há em alguém que não é fisgado pela vida (necessitado, desejando ardentemente algo ou alguém, insistindo que a vida seja de uma certa maneira) – você perceberá que tal pessoa está em paz e livre.
<br />
<br />Estas são as pessoas que são uma influência curativa e benéfica sobre toda a vida que está perto deles. Eles não precisam fazer nada – a cura vem da maneira como eles são. Essa transformação é o que queremos da nossa prática.Temos muita sorte de ter essa oportunidade nesta vida. Vamos aproveitá-la e fazer o nosso melhor.
<br />
<br />- tradução: Monja Isshin e Muriel Paraboni</blockquote>
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-46861579288710627672011-07-27T17:14:00.000-03:002011-07-27T17:16:07.725-03:00Fé e crença<div style="text-align: justify;"><blockquote>A distinção entre fé e crença aponta para o fato de que uma religião historicamente dada e institucionalmente formulada sempre se refere a uma convicção responsavelmente assumida e vivida. Caso contrário, religião e fé tornam-se mero costume exterior ou dever imposto. Somente em experiências conquistadas pela crença se pode confirmar a fé. Por sua vez, a crença pessoal também se refere sempre a uma fé formulada, porque, caso contrário, ela não teria um lugar histórico e social; sem uma linguagem comum ela não poderia ser comunicada e não poderia confirmar-se numa vida comunitária.</blockquote><br /><br /><div style="text-align: right;">Hans Zirker, filósofo e teólogo alemão<br /></div><br />Creio que a maior analogia para se pensar esta questão de fé x crença é a linguagem. Caso você não tenha percebido antes, esta linguagem que você crê ser tão sua - afinal, é você quem a usa o tempo todo - foi transmitida e "ensinada" pelos seus pais, parentes, professores. No início, ela não tinha nada de sua. Isto, porém, não é impedimento para ela; não é por causa disto que a maldizemos e dizemos que ela é ruim por que "ela nos foi dada de forma não crítica", como uma crença. No começo, ela funciona como a crença. Cremos na linguagem de forma mágica, nos primeiros anos de vida. É preciso tempo e vida, porém, para que façamos da linguagem uma casa nossa; para que a tornemos nossa, a utilizemos da forma que nos aprouver.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-76350756348516057722011-07-18T02:49:00.002-03:002011-07-18T03:02:02.970-03:00Tênue Transmissão<p class="western" style="text-align: left;margin-bottom: 0cm; "><i>Texto publicado no </i><a href="http://www.daissen.org.br/hp/index.php?id=&s=ct&menu_id=16">Todatsu Shinbun<i> 5</i></a></p><p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Imagine a seguinte chamada de um jornaleco sensacionalista: “Lavador de arroz analfabeto recebe Transmissão; funcionários e monges furiosos com comportamento do abade”. Em poucas palavras, treze séculos atrás esta foi a história de Dàjiàn Huìnéng (Daikan Enō), o sexto ancestral do chan (zen) na China. Sua conclusão – incluso o belo poemeto-réplica de Enō - deixo como tarefa de casa. Adianto apenas que, para fugir dos monges enfurecidos, ele escondeu-se na casa de um caçador durantes uns bons anos, depois de ter recebido, no meio da noite densa, o manto e a tigela do velho abade, Daman Hongren (Daiman Kōnin), juntamente com um conselho: "Desde tempos antigos a transmissão do dharma é tênue como um barbante frouxo. Vá embora, rápido."</p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Enō viveu perto dos 80 anos, aprendeu a ler e a escrever e tornou-se um poeta e calígrafo renomadíssimo, além de um mestre zen prolífico. Algumas de suas obras sobrevivem quase intactas até os dias de hoje, e ele próprio é relembrado por nós, mesmo que brevemente, na nossa recitação das dezenas e dezenas de nomes da “Linhagem”. Sua história, com um gostinho de conto de fadas misturado com piada, é somente uma dentre várias: histórias que misturam angústia com despertar, sofrimentos e grandes alegrias, histórias de pessoas muito próximas de nós mesmos.</p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Tomemos Ānanda, por exemplo: o belíssimo, astuto e erudito Ānanda, o acompanhante, primo, amigo e “secretário” do Tathāgata. Acompanhando o Buddha por duas décadas como uma sombra, quem seria mais privilegiado do que ele, quem teria mais chances e oportunidades para a prática, esta prática onde amigos são tão importantes? Mesmo assim, o Tathagatha morre e Ānanda desespera-se: ele ainda não tornara-se um arhat. “Se nem um Desperto me serve de algo, devo ser um caso perdido”, imagino Ānanda ruminando, num choro agridoce a morte do amigo. Não é difícil sentir Ānanda vivo, aqui do nosso lado. </p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Ou então também há, como de praxe, histórias de grandes apostas; riscos desmedidos para ir atrás de algo. Numa época em que uma travessia marítima não era um cruzeiro turístico, Bodhidharma e o jovem Dōgen cruzaram mares, tanto para buscar quanto para levar o “verdadeiro dharma”. Admiramo-nos de sua coragem, ao mesmo tempo em que nos esquecemos que esta tenacidade, esta firme resolução de atravessar montanhas e mares, não é tão nossa desconhecida.</p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Seguem as histórias, seguem os exemplos, segue a familiaridade. Aprendemos a apreciar os “grandes feitos” dos outros a partir da nossa própria experiência. Para quem nunca pensou em sentar em zazen, as decisões e dramas de Dōgen, Bodhidharma, Ānanda e Enō podem parecer uma grande bobagem, uma grande “perda de tempo”. Se, porém, ao escutarmos uma história desta, sentimos um leve calorzinho de reconhecimento, sabemos de quem estamos falando: não estamos falando de pessoas que viveram e morreram séculos atrás, estamos falando sobre nós mesmos – como se o sangue de buddhas e ancestrais estivessem correndo nas nossas veias, esquentando os nossos pés e mãos.</p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Quanto mais praticamos, mais vemos a nossa fragilidade, a facilidade com que hesitamos e recuamos, os nossos pequenos passinhos de bebê. Mais apreciamos a força de vontade de algumas pessoas que fizeram grandes apostas; mais apreciamos a raridade que é encontrar um dharma que viceja verdejante. A gratidão é inevitável. Temos bons modelos onde nos fiar.</p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Mas não paremos por aí. Onde poderíamos ver apenas nomes esquisitos, de difícil pronúncia, amarelecidos pelo tempo, é preciso que nos enxerguemos. Todos eram pessoas como nós, nascidos de pai e mãe, bebedores de leite. De suas vidas, tirantes suas carreiras como professores e mestres, sabemos quase nada: alguns casos e crônicas e frases e ditos e escritos. O resto, “desnecessário”, perde-se - e talvez seja útil que assim o seja. Podemos encontrar nas entrelinhas, porém, as incontáveis histórias que ficaram e ficam por contar: as nossas. Não tão memoráveis, ou tão heroicas, e provavelmente fadadas à maré do esquecimento, como os nomes de nossos bisavós. Estas incontáveis vidas todas são, contudo, o solo fecundo onde se enraíza a prática, onde floresce o Despertar. Sem elas, a história de todos estes grandes homens e mulheres são folhas secas jogadas ao vento.</p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">É preciso um esforço, o esforço da lembrança, para cimentar a memória efêmera – e não há nada mais efêmero do que uma lista de cem nomes. Efêmera e tênue é a transmissão: diz-se que, logo depois do seu Despertar, Shākyamuni ficou tentado a simplesmente permanecer em silêncio e usufruir a sua realização, a não ensinar o dharma - dharma tão sutil, tão difícil, tão sujeito a más interpretações. Foi preciso uma “intervenção divina” para que ele mudasse de ideia. O velho abade poderia ter ficado quieto. Bodhidharma podia ter ficado em casa, em vez de ir para o Leste. Que “chama” é esta que transmitiram, que segue contínua até os dias de hoje? Eu não sei dizer. </p> <p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Enō foi acompanhado de noite, pelo velho abade, até estar a uma distância segura para seguir viagem. Logo antes do abraço final, entre recomendações, o velho abade fala: “Se você conseguir despertar a mente/coração de outra pessoa, esta pessoa não será nada diferente de mim.”</p><p class="western" style="text-align: center;margin-bottom: 0cm; ">***</p><p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">Os dados da história de Huìnéng, inclusive as falas do "velho abade", foram retiradas do Sutra da Plataforma, especialmente o primeiro capítulo, autobiográfico; <a href="http://books.google.com/books/about/The_platform_sutra_of_the_sixth_patriarc.html?id=bbAinrNvdlMC">tradução de Yampolsky, <i>The Platform Sutra</i></a>.</p><p class="western" style="text-align: justify;margin-bottom: 0cm; ">A descrição de Ānanda é do <i>Denkōroku</i>; o episódio da sua reação à morte do Buddha é relatada, de diversos modos, em vários sutras do cânon páli e sutras mahayana.</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-90452276992121870602011-07-07T22:55:00.004-03:002011-07-07T23:11:09.202-03:00Grande dúvida<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLxc__Ks67y3PDb6XwdtWnMQkSfrSFzos0l0VNcFhNtU59cq4FOSXeZHrtSWNb_B2_NFXSRWDXcLmsSQ5BWAbAP7j2hRhf4isZk6UYWvH4FI66f4TNr35mOnciuhqgk_4-oNtMMXmlQSw/s1600/doubt_dice-150x150.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 150px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLxc__Ks67y3PDb6XwdtWnMQkSfrSFzos0l0VNcFhNtU59cq4FOSXeZHrtSWNb_B2_NFXSRWDXcLmsSQ5BWAbAP7j2hRhf4isZk6UYWvH4FI66f4TNr35mOnciuhqgk_4-oNtMMXmlQSw/s320/doubt_dice-150x150.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5626794637601413682" /></a><div style="text-align: justify;"><blockquote>Deves duvidar profundamente, sempre e sempre, perguntando a ti mesmo o que poderia ser o sujeito que está ouvindo. Não preste atenção aos vários pensamentos ilusórios e ideias que possam te ocorrer. Apenas duvide mais, e mais profundamente, concentrando em você toda a força que há dentro de ti, sem mirar em coisa alguma e sem esperar nada em adiantado, sem pretender ser desperto e sem nem mesmo pretender não pretender ser desperto; <b>torne-se como uma criança em teu próprio peito</b>.</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span"><i>Takasui, mestre zen (rinzai?) japonês, século XVII</i></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é interessante, a última frase?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dizem que para a prática do zen é preciso uma grande confiança/fé, uma grande dúvida e uma grande determinação. Hakuin é outro mestre rinzai que enfatiza a "dúvida", especialmente na prática com kōan.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Nusuth</i>, como diriam os handdaratas de Gethen.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-15546780926950653682011-05-30T18:41:00.000-03:002011-05-30T18:42:41.162-03:00Palestra<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge7Eiz7gf_svvcEb0pL5V6O3WmVL1cHbyvo-sGVFzvdcrv5ZrigaHQ1AWe8Nt4tmBQIMGBLL55aM1FY5NTELkWD9LykkBHeZi3IgTxa1_QeIzo_e7EdyLiray8FUaJ_5CHHn93l8uO4PA/s1600/Palestra+na+sangha.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 226px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge7Eiz7gf_svvcEb0pL5V6O3WmVL1cHbyvo-sGVFzvdcrv5ZrigaHQ1AWe8Nt4tmBQIMGBLL55aM1FY5NTELkWD9LykkBHeZi3IgTxa1_QeIzo_e7EdyLiray8FUaJ_5CHHn93l8uO4PA/s320/Palestra+na+sangha.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5612627780213540354" /></a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-82722216962406961982011-05-24T19:59:00.004-03:002011-05-24T20:11:11.039-03:00Além da dor<div style="text-align: center;"><i>Quem quer passar além do Bojador,</i></div><div style="text-align: center;"><i>Tem que passar além da dor.</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ir além de: precisamos de uma clarificação. No nosso andar cotidiano passamos pelas coisas - e as deixamos para trás. As coisas "aproximam-se" e "distanciam-se". Neste aproximar e distanciar, algumas vezes dizemos que vamos "além de" algo. Ultra-passamos, trans-passamos, "para"-passamos. Deixamos para trás; nós e as coisas estamos "além".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A dor também é algo que se nos aproxima e distancia. Podemos sentir a sua aproximação e dela nos refugiar, abrigar, proteger. Sentados peri-imóveis, vemos a sua aproximação. A mão de ferro da dor nos comprime, devagar mas sem hesitação: é decidida, não duvida. Nos deixamos ficar tensos na compressão deste amplexo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim estamos, então, sentados e em dor. A dor está presente: aproximou-se, porém não se distancia. Diferindo de um ponto pelo qual passamos e deixamos "para trás", a dor permanece. Se desistimos do nosso sentar, evitamos a dor - nos abrigamos dela. Mas assim vamos para além dela? Não; somente a anulamos como possibilidade de ser. Ela torna a ser quando as condições estão postas. Torna-se claro que ir além da dor, então, não é dela se distanciar como algo no mundo, como o seria ir além da árvore na esquina. "Ir além" da dor é ultrapassa-la incluindo-a.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ultrapassar incluindo é como virar a luz da vela para iluminar a chama.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao sentar, sentimos a dor. Ela continua existindo, como dor, mesmo quando vamos "para além" dela. Não nos tornamos insensíveis, dela, como dor; não fugimos. Lá - aqui - ela está e continua.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É preciso a aguda e perfurante determinação para ir além da dor; é preciso uma cálida paciência para aprender a soltar, relaxando, nosso corpo da gélida mão pétrea da dor. É por isto que ir além da dor sempre foi descrito em tons heroicos; determinação e "coragem" são a marca do herói - força de leão, olhar de águia. Fora isto, ir além da dor não tem precisamente nada de heroico; é simplesmente a pura determinação de vivenciar o <i>shikantaza</i> em sua simplicidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">*****</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O melhor a fazer, com relação a dor durante o zazen, é: vá um pouco além do ponto que você costuma aguentar. Depois, simplesmente troque de posição, se preciso. Ficar com a dor "heroicamente" deve ser uma escolha, e não uma obrigação. Não faça mal a si mesmo, a dor é um bom sinal de algo que não está tão bem assim.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-50498876678804186292011-04-03T23:56:00.005-03:002011-04-04T00:04:00.617-03:00Hanamatsuri<div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" ><u><br /></u></span></div><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn-OfL45rRENGUNoppAhcjJhhtmHZZmLlYx3ZPcimj2E6yJQ_cmxeb4mj-D2rP38O2elCCfdirEfPsxjdH1BN5QfQmYHn6q-l4lVfKD-F8NQxkxmlSoko50New3LqjEl3Qq7IZqAFt9ok/s320/Hana+Matsuri.jpg" style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 229px;" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5591557503797544530" /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiety9FAMSCmZFhpt_y8kdMUZIS7gUKwt5k1RRm9Ek6IJYy_kRjtpESnomkL4AgxI-K3OgJqMTXaeJwS5QAgTlnJXx0agz86A6ypg7CnlabbLBMRYvAumXQu8092c_doeKPxBowoIvU-NI/s1600/FESTIVAL.jpeg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 225px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiety9FAMSCmZFhpt_y8kdMUZIS7gUKwt5k1RRm9Ek6IJYy_kRjtpESnomkL4AgxI-K3OgJqMTXaeJwS5QAgTlnJXx0agz86A6ypg7CnlabbLBMRYvAumXQu8092c_doeKPxBowoIvU-NI/s320/FESTIVAL.jpeg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5591557179035349954" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Neste próximo final de semana ocorrerá o primeiro <i>Hanamatsuri </i>- Festival das Flores - em Florianópolis. O primeiro cartaz trata do almoço que irá ocorrer nas dependências do restaurante Daissen durante o festival.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Segue a <b>programação</b>:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">8: 00 horas - abertura</div><div style="text-align: justify;">8:30 horas – Palavras do Presidente da Associação Nipo Catarinense – Luiz Kiyoshi Nakayama e do Monge Genshô</div><div style="text-align: justify;">8:45 horas – Cerimônia cívica – Brasil / Japão</div><div style="text-align: justify;">9:00 – 9:30 horas – Cerimônia religiosa em honra às vítimas da catástrofe no Japão</div><div style="text-align: justify;">9:30 - 10:00 horas – Apresentação de Tai-Chi-Chuan – Dr Yu Tao</div><div style="text-align: justify;">10:00 –10:40 horas – Orquestra Escola da Fundação Franklin Cascaes - Maestro Carlos Alberto Vieira</div><div style="text-align: justify;">11:00 – 11:30 horas - Aikido infantil – Kawai Shihan Dojo – Fábio Sensei</div><div style="text-align: justify;">11:30 – 12:00 horas – Aikido Adulto – Kawai Shihan Dojo</div><div style="text-align: justify;">12:00 – 14:00 horas – Banda Hatenkoo, Desfile Cosplay, Animekê – Ricardo Hayashi</div><div style="text-align: justify;">14:00 às 14:30 horas – Kenjutsu – Instituto Niten</div><div style="text-align: justify;">14:30 às 15:00 horas – Apresentação de Kung Fu ( Evando Seido)</div><div style="text-align: justify;">15:00 às 16:00 horas – Banda Amor a Arte</div><div style="text-align: justify;">16:00 às 16:30 horas – Nantyusoran - alunos do Nihongo e membros do Shimadaiko</div><div style="text-align: justify;">17:00 às 17:15 horas – Shamisen – Ryoko Fukuhara</div><div style="text-align: justify;">17:15 horas – Apresentação de Taiko com o Grupo Shimadaiko</div><div style="text-align: justify;">17:45 – Cortejo de enceramento com a imagem de Buda menino</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>No Espaço do Templo Daissen Ji</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">16:00 às 17:00 horas – Cerimônia do Chá – Grupo Wullin Práticas Orientais</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Espaço Oficinas:</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">14:30 às 15:30 horas – Kenjutsu – Instituto Niten</div><div style="text-align: justify;">15:00 às 16:00 horas – Oficina de Taiko com o Grupo Shimadaiko</div><div style="text-align: justify;">9:00 às 15:00 horas - Origami para comunidade –confecção de Tsurus em homenagem às vítimas da catástrofe no Japão – Paula Hidemi Kaneoya, Jackson Adriano, Yuina Takase</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Stands Culturais:</b> Shodo, Nihongo, Mangá, Taiko, Softball, Reiki, Ikebana, Forja da Esapada Japonesa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Stands de Vendas:</b> Comunidade Zen Budista Florianópolis, Missão Jovem, Centro de Estudos Budista Bodisatva, Instituto Niten, Shiatsu MiMa, ArtBonsai, Origami, Monte Fuji, Torii, Olaria de São José, MangaNiac, Nyanco, Cerâmica Marina Takase, Sushi Seiji e Jussara, Fernando Pitinati</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Stand da Secretaria Municipal de Esportes</b></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><b>Apareçam e façam deste evento uma primeira edição de muitas por vir!</b></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-3396913186462548032011-03-15T04:35:00.004-03:002011-03-15T04:48:31.840-03:00Listas e mais listas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOKh69yxLJiuijfc1R4lL6C5xjrb0vphTV92YTGTTX-Ueo4pNDjWH-Qs6_IczTdy4F7xLLtxXP3FOsBf5ccG74N32jLQG0h4_BRyvR7RRIZwUg6cHNYtLs77f5H8PWIZuom9ZVuEqJSzw/s1600/xin_20204061618527342314221.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 210px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOKh69yxLJiuijfc1R4lL6C5xjrb0vphTV92YTGTTX-Ueo4pNDjWH-Qs6_IczTdy4F7xLLtxXP3FOsBf5ccG74N32jLQG0h4_BRyvR7RRIZwUg6cHNYtLs77f5H8PWIZuom9ZVuEqJSzw/s320/xin_20204061618527342314221.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5584210384234296594" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Um dos pontos mais atraentes e charmosos do budismo "original", <i>theravada</i>, é que ele é cheio de listinhas: desde as listagens mais famosas, como o Nobre Caminho Óctuplo, as Quatro Nobres Verdades, os Cinco Agregados, até listinhas mais desconhecidas do praticante comum, como as 32 marcas físicas de um Buddha (que não o deixam muito atraente, aos meus olhos) ou os 12 elos da Corrente de Originação Interdependente, e demais quetais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O charme destas listinhas, especialmente para pessoas com um pendor para a divagação e especulação, é que elas ajudam a ajustar e a focar melhor a vista, especialmente em momentos em que a prática parece dar um nó*; aqueles momentos em que, olhando em retrospecto para a sua prática meditativa, você se pergunta: "mas então, do que exatamente estamos falando?", e tcharám! Já que o buddha Śākyamuni não se encontra para conversar pessoalmente contigo... Algumas vezes nem mesmo um amigo mais experiente está disponível. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">*(São também indicadas para os praticantes iniciantes que se apaixonam demasiado pelo suposto lado paradoxal da prática do zen, por exemplo - lembre-se, d. Maria, que por trás de um paradoxo sempre há uma lógica, agachadinha.)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em uma cultura de transmissão oral, como era a dos primórdios do budismo, a formulação de listas e a repetição de fórmulas e frases feitas eram as técnicas mnemônicas mais utilizadas. Passe os olhos nos sutras budistas mais antigos e veja por si mesmo: a fórmula que Śākyamuni utiliza para expressar o seu Despertar, por exemplo, é praticamente idêntica em dezenas de ocorrências. Algumas vezes é maçante, e em outras é elegante: ajuda a criar um discurso consistente e atraente pela sua suposta simplicidade. As mesmas técnicas são também utilizadas em livros originalmente transmitidos oralmente, como os homéricos <i>Ilíada </i>e <i>Odisseia</i>, e (segundo alguns estudiosos) em muitas partes dos livros iniciais do Velho Testamento cristão, ou da <i>Tanakh </i>judaica.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Estas listinhas são tão úteis - "profícuas" - quanto uma lista de compras no supermercado, ou o hábito de possuir uma agenda para anotar a hora do dentista. Alguns se orgulham de ter uma boa memória, e de não precisarem ter de apelar para recursos externos para complementá-la. Na mitologia budista, o grande memorizador era o primo, discípulo e secretário do Tathāgata, o belo Ānanda, de cuja memória puderam-se fiar as inumeráveis suturas. Podemos imaginar, contudo, que o processo tenha sido um pouco mais humano: Ānanda, o <i>savant</i>, tendo suas memórias complementadas pela reunião de centenas de veneráveis <i>bhikkhus</i> - como um grande congresso acadêmico, mas sem <i>coffee breaks</i>. Memória apenas por memória: a temos e a desejamos mais. De um ponto de vista budista, porém, a pergunta é: memória para quê? Para orgulhar-se da mesma, ou para mantê-la abarrotada com as inevitáveis superfluidades da vida? Se estamos em déficit de algo, contemos com as facilidades que possuímos: tudo depende do uso que poderemos dar, à memória e às facilidades.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ninguém exige, ou deveria exigir,de um praticante budista que ele memorize listas e coleções de itens; o valor delas reside somente em seu poder de "poder ver melhor", de ter mais clareza na prática cotidiana, e depende de circunstâncias e contextos. Para um professor ou instrutor tal necessidade é maior do que para um praticante leigo: mas não porque aquele sabe mais e, portanto, é "melhor", e sim para ampliar um repertório de ferramentas a ser utilizado parcimoniosamente, em vista de tal ou tal pessoa em tal ou tal lugar. Em vários momentos de seus sutras mais antigos, e em algumas formulações mahayana, Śākyamuni afirma o valor de ter uma "visão correta", um ponto de vista "correto" sobre o dhamma, mas para logo depois, então, reassegurar: o apego a um ponto de vista específico é tão improfícuo, para o Despertar, quanto a ignorância.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-75555785889159506372011-02-08T18:13:00.003-02:002011-02-15T04:15:59.245-02:00Próximos eventos da CZBF<div style="text-align: justify;">Este ano a Comunidade Zen-Budista de Florianópolis estará de vento em popa: todos aqueles que quiserem ter a experiência de fazer um <i>sesshin </i>- um retiro - ou um <i>zazenkai </i>- um dia de prática - terão oportunidades de sobra.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="http://www.daissen.org.br/hp/index.php?s=noticias&noticia_id=1333">Neste próximo final de semana, sábado, haverá um <i>zazenkai</i>;</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="http://www.daissen.org.br/hp/index.php?s=noticias&noticia_id=1334">e nos dias de carnaval um <i>sesshin</i>, com a presença mais que especial do <i>roshi </i>Saikawa.</a> Ótima oportunidade: embora residente em São Paulo (Busshin-ji), ele está sempre para lá e para cá, e tê-lo conosco é um privilégio, embora breve.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Confira sempre a <a href="http://www.daissen.org.br/hp/index.php?id=&s=home">página do Daissen-ji</a> e fique de olho nos próximos!</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-68194739510493814672011-01-14T05:11:00.003-02:002011-01-14T05:25:40.089-02:00Em poucas palavras<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQhQtb_s-6qPKiBHPLyHY45B2aYt-LsjPY9jNk37KxyRSGyJmMj2B_1wdHVWZwxN-aMlPb5f-wnOwiy8WulSMOYZXm7YoDUCJD16yCzNSMHqPR63alY_lhgvab_LtxgdSRtnhpfwP-F4A/s1600/1670239316_c751b44928.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQhQtb_s-6qPKiBHPLyHY45B2aYt-LsjPY9jNk37KxyRSGyJmMj2B_1wdHVWZwxN-aMlPb5f-wnOwiy8WulSMOYZXm7YoDUCJD16yCzNSMHqPR63alY_lhgvab_LtxgdSRtnhpfwP-F4A/s400/1670239316_c751b44928.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5561939214264759906" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Meu amigo,</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">e quem disse que ler Dōgen é necessariamente difícil, coisa para literatos & eruditos & Despertos & afins? É assim que ele conclui o seu <i>Zazengi</i>, depois de dar intruções para o zazen shikantaza que são repetidas ipsis litteris 800 anos depois:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">坐禪は習禪にあらず</div><div style="text-align: justify;">大安樂の法門なり</div><div style="text-align: justify;">不染汚の修證なり</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">zazen wa shūzen ni arazu,</div><div style="text-align: justify;">dai anraku no hōmon nari,</div><div style="text-align: justify;">fu senna no shushō nari.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Zazen não é habituar-se ou aprender a fazer <a href="http://opicodamontanha.blogspot.com/2011/01/jhana-dhyana-zen.html">zen [dhyāna, "meditação"]</a>; é o portal-do-dharma da grande paz e felicidade, é a prática-prova imaculada e pura."</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Prática-prova" é a minha inocente tradução de um dogenismo: ele coloca lado a lado "prática" (修 shu) - a prática budista, a prática da meditação virtude etc. - e "prova, verificação" (證 shō) - neste caso a "verificação" por si mesmo do Despertar. Não se trata de prática para alcançar o Despertar, e não se trata de um Despertar depois da prática.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-57697097043649810202011-01-14T04:59:00.001-02:002011-01-14T05:02:27.500-02:00Mensagem a um amigo<div style="text-align: justify;">Você diz achar engraçado, ou esquisito, quando eu te digo que, de alguma forma, você já experimentou o que eu costumo - lástima! - chamar de "zazen verdadeiro".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >(Lastimo por saber que, falando assim, vem logo à cabeça "zazen falso", o que não existe. Ou há zazen ou não há zazen; zazen ou não zazen, eis a questão. O "zazen verdadeiro" serve apenas para delinear os momentos, raros ou não, em que não estamos simplesmente sentados tentando fazer zazen. Mesmo estar "sentado tentando fazer zazen" já é fazer zazen, porém.)</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não se admire: não estou falando de algo muito além algures, não estou falando de algo especial e do qual eu tenho testemunho e propriedade. Se você usar a sua cabeça e observar bem, verá por si mesmo e pela sua prática que o tal do "zazen verdadeiro" não é difícil de ser alcançado: não é um prêmio ao longo de um árduo e esforçado caminho, algo ao ser alcançado por último.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Olhe! Observe! Você sabe do que eu estou falando. Mesmo que tenha sido por um brevíssimo momento, em qualquer lugar que seja, você já o vivenciou. Mesmo que você não tenha compreendido muito, ou sequer pensado a respeito, sem que você queira ele já se diluiu e está lá, sombranceiro, junto com o seu zazen. Sem querer, ele se tornou uma lembrança difusa, até mesmo inconsciente, mas uma lembrança costurada e amarrada profunda e intimamente. Se você deixar, esta vivência te arrastará novamente para ela. Se tentar ir atrás, não a alcançará jamais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Vivenciar este "verdadeiro zazen" não é sinônimo de tarefa cumprida. É, na verdade, o começo. Quando você consegue discernir, por si mesmo, que estes delicados e raros momentos não estão sobre a sua jurisdição e controle, é um bom sinal - eles são tão fugidios e escorregadios como um sabonete redondo molhado. O máximo que você pode fazer - uma das possibilidades - é continuar com o zazen, o real zazen sem objetivos - nada a procurar, nada a encontrar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste sentido é que eu digo a você que não se trata de algo especial, ou o tal do prêmio merecido. Se você for uma pessoal "normal", o que creio que é o caso, não se trata de nada que vai transtornar ou mudar radicalmente a sua vida. É bem capaz que, alguns poucos minutos depois de levantar do tal "verdadeiro zazen", você se veja novamente com a sua irritação, com a sua raiva, com o seu querer demasiado apaixonado. A corrente continua fluindo, meu caro; não se engane achando que há uma fácil panacéia. É esta discrepância entre a sua vida cotidiana e o "verdadeiro zazen" que é o terreno da nossa prática cotidiana. A prática de cada um.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-79088242666790177242010-11-10T15:01:00.003-02:002010-11-10T15:09:23.183-02:00Grande tolo<div style="text-align: justify;">Ryōkan Daigu é uma das figurinhas mais lendárias e simpáticas do zen japonês; uma espécie de eremita e errante, um tanto avesso à vida sacerdotal, vivendo em sua cabaninha de telhado de palha. Nome de monge bem dado ("grande tolo com um bom coração"): Ryōkan gostava de tomar umas biritinhas com os camponeses da vizinhança, ou então sozinho, escrevendo poemas em sua cabana - pelos quais ficou conhecido, mais tarde. Também gostava de brincar com a criançada, e conta-se que muitas vezes esquecia de fazer a sua ronda de esmolas, de tão entretido que estava - e ficava sem comer. Seu professor realmente soube escolher um nome-do-dharma à altura.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfg72lenrdSIU8tXoECQIOgJjRKEoPw7Oo-sGdyqOmgHGfcjmL2zcPIJQlw_13waO9vhZ8zwkVHaQcLAfa0hyphenhyphenuBYJiL8w3VaUkBySObHjqszbohy8-73728FlEaqtDytiPtGIhyphenhyphenkhwMfw/s320/ryokan-children2.jpg" style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 243px;" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5537968608789200162" /><div style="text-align: justify;">Estes são os "59 itens que Ryōkan compilou para ter o comportamento à altura de um monge budista, lembrando, como mestre Chao-chou dizia, o budismo não é o que a pessoa prega ou fala, mas o que faz. É notável que a maioria de suas auto-impostas advertências estão ligadas ao ato de falar [....]"</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Tomar cuidado para:</div><div style="text-align: justify;">- não falar demais;</div><div style="text-align: justify;">- não falar rápido demais;</div><div style="text-align: justify;">- não falar sem alguém perguntar;</div><div style="text-align: justify;">- não falar gratuitamente;</div><div style="text-align: justify;">- não falar com as mãos;</div><div style="text-align: justify;">- não falar sobre assuntos mundanos;</div><div style="text-align: justify;">- não retorquir rudemente;</div><div style="text-align: justify;">- não discutir;</div><div style="text-align: justify;">- não sorrir condescendentemente às palavras de outros;</div><div style="text-align: justify;">- não usar expressões chinesas elegantes;</div><div style="text-align: justify;">- não se vangloriar;</div><div style="text-align: justify;">- evitar falar diretamente;</div><div style="text-align: justify;">- não falar com ar de quem sabe tude;</div><div style="text-align: justify;">- não pular de um tópico para outro;</div><div style="text-align: justify;">- não usar palavras enfeitadas ou pomposas;</div><div style="text-align: justify;">- não falar de eventos passados que não podem ser alterados;</div><div style="text-align: justify;">- não falar como um pedante;</div><div style="text-align: justify;">- evitar perguntas diretas;</div><div style="text-align: justify;">- não falar mal dos outros;</div><div style="text-align: justify;">- não falar grandiloquentemente da iluminação;</div><div style="text-align: justify;">- não fazer bagunça quando bêbado;</div><div style="text-align: justify;">- não falar de forma desprezível;</div><div style="text-align: justify;">- não gritar com crianças;</div><div style="text-align: justify;">- não tecer histórias fantásticas;</div><div style="text-align: justify;">- não falar quando zangado;</div><div style="text-align: justify;">- não deixar subentender nomes importantes;</div><div style="text-align: justify;">- não ignorar as pessoas a quem você está se dirigindo;</div><div style="text-align: justify;">- não falar santimonialmente dos deuses ou dos budas;</div><div style="text-align: justify;">- não usar discurso adocicado;</div><div style="text-align: justify;">- não usar discurso adulador;</div><div style="text-align: justify;">- não falar de coisas das quais você não tem conhecimento;</div><div style="text-align: justify;">- não monopolizar a conversa;</div><div style="text-align: justify;">- não falar de outros pelas costas deles;</div><div style="text-align: justify;">- não falar convencidamente;</div><div style="text-align: justify;">- não denegrir os outros;</div><div style="text-align: justify;">- não cantar rezas ostensivamente;</div><div style="text-align: justify;">- não reclamar da quantidade da doação;</div><div style="text-align: justify;">- não dar sermões muito eloquentes;</div><div style="text-align: justify;">- não falar afetadamente como um artista;</div><div style="text-align: justify;">- não falar afetadamente como um mestre do chá;</div><div style="text-align: justify;">- oferecer incenso e flores para os budas;</div><div style="text-align: justify;">- plantar árvores e flores, limpar e aguar o jardim;</div><div style="text-align: justify;">- regularmente usar moxa para as pernas;</div><div style="text-align: justify;">- evitar peixes oleosos;</div><div style="text-align: justify;">- selecionar comidas leves e evitar comidas gordurosas;</div><div style="text-align: justify;">- não dormir demais;</div><div style="text-align: justify;">- não comer demais;</div><div style="text-align: justify;">- não dar uma cochilada muito longa à tarde;</div><div style="text-align: justify;">- não ficar exausto;</div><div style="text-align: justify;">- não ser negligente;</div><div style="text-align: justify;">- não falar quando você não tiver nada a dizer;</div><div style="text-align: justify;">- não esconder nada em seu coração;</div><div style="text-align: justify;">- sempre beber o saquê quente;</div><div style="text-align: justify;">- raspar sua cabeça;</div><div style="text-align: justify;">- aparar as unhas;</div><div style="text-align: justify;">- escovar os dentes e usar um palito de dentes;</div><div style="text-align: justify;">- tomar banho;</div><div style="text-align: justify;">- manter sua voz clara e nítida."</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"[....] Mestre Ryōkan estava sempre esquecendo as coisas. Um número de cartas a seus amigos sobreviveu, cheia de desenhos de objetos que ele havia esquecido em algum lugar e lhes perguntando se eles haviam visto os objetos em questão. Às vezes ele mendigava na mesma casa, duas vezes no mesmo dia, tendo esquecido sua visita anterior e era repreendido pela dona da casa por ser cobiçoso. Aqui está uma outra lista que ele fez:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Coisas para levar com você: chapéu de algodão, toalha, tecido, papel, leque, moedas, bolinhas de gude e bolas de jogar.</div><div style="text-align: justify;">Necessidades: chapéu de bambu, material para a perna (como uma meia), luvas, cinto, bastão, manto pequeno.</div><div style="text-align: justify;">Para peregrinações: roupas, capa de chuva de palha, tigela, saco.</div><div style="text-align: justify;">Lembrete: tenha certeza de ler isto antes de sair ou você vai ficar em apuros!"</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">entre aspas: da revista <i>Flor do Vazio</i>, ano 7 vol. 1, verão de 2003; pg. 72</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-38176046460007791902010-11-06T22:50:00.003-02:002010-11-06T23:00:57.188-02:00Falar, instruir, e as cercas de roseiras-bravas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoNvlvoFIq3dhpOaaGDtCoWvTAgSe3Ktoc1l4cA_gIsrX46M4pTlO4ZUYkIvnZghqN-MhTwRbCgrMxKRlentxdOt8uGXTeP6vPP3Ssw6HuJGAnHF3RCoGdKwQzHSI75Zui96AAADFSlmM/s1600/Sesshin+Iniciantes+junho+2010+(155).jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoNvlvoFIq3dhpOaaGDtCoWvTAgSe3Ktoc1l4cA_gIsrX46M4pTlO4ZUYkIvnZghqN-MhTwRbCgrMxKRlentxdOt8uGXTeP6vPP3Ssw6HuJGAnHF3RCoGdKwQzHSI75Zui96AAADFSlmM/s320/Sesshin+Iniciantes+junho+2010+(155).jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5536606351780648706" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Há uma dificuldade bem clara em falar do "dharma": qualquer declaração fixa sobre ele parece sempre a ponto de resvalar e surgir em um outro lugar transmutada exatamente no contrário, que por sua vez pode ir passear nas ilhas Cayman e deixar você em apuros com a Receita.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É fácil instruir os outros a respeito do zazen - como fazê-lo, que problemas encontrar, como lidar com eles. Aliás, instruções sobre o "verdadeiro zazen" da nossa escola Sōtō - o <i>shikantaza</i> - acabam sempre monotemáticas e soam as mesmas em todo lugar, diferenciando-se somente pelo estilo peculiar de cada pessoa que instrui.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Graças ao meu bom <i>daimon </i>eu somente instruo pessoas com relação ao zazen, e nada mais. Posso ir apenas até onde a minha experiência pessoal sugere similaridades; piso somente em terreno conhecido, e sugiro a outros que venham conhecê-lo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Alguém que tenta falar sobre o "dharma" sem conhecê-lo, por mais inteligente que seja, acaba sempre se metendo em confusões - verbais ou não. "Conhecer o dharma" não se trata de conhecer uma doutrina ou teoria, e de saber argumentar da "maneira certa" com relação a ele: conhecer o dharma é ter os seus olhos trocados por olhos de um Buda, como dizia Dōgen zenji.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">(Neste sentido as "palestras do dharma" ou teishō de um professor podem soar como óbvios, ou até mesmo tolos.)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Instruir os outros, mesmo da forma mais básica, é como cortar caminho em mata cerrada, abrir picadas. Você é ora cercado de um lado, ora de outro, ora precisa forçar adiante, para não ficar preso - mesmo sem ter certeza se aquele era realmente a maneira certa. ora você precisa abrir caminho para si mesmo, ora abrir para outros que vêm atrás, ora seguir atrás de outrem, mesmo contra a vontade. Há caminhos conhecidos, outros desconhecidos; trilhas batidas e paredões de verde.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já o verdadeiro zazen é como chegar em casa: nada mais a fazer, nem a dizer. </div><div style="text-align: justify;">E isso não porque você está morto, ou em coma!</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-17554247929894840512010-09-29T18:34:00.001-03:002010-09-29T18:36:09.013-03:00Agachamento, para os quadris<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4kjFl9v8Eas3ClKJwH27RwtRHC-gQZvFEwJl-mvn2FKztsYmC-USfn9DtcUkrDcoTVqijxm7ZjbrFxQRQ27SpKLewMb0YEqrsheyssObPwRXfhTqLOpOx9nEHj5MxTvKIzvVi7ubvlm0/s1600/BABY+SQUAT.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 264px; height: 275px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4kjFl9v8Eas3ClKJwH27RwtRHC-gQZvFEwJl-mvn2FKztsYmC-USfn9DtcUkrDcoTVqijxm7ZjbrFxQRQ27SpKLewMb0YEqrsheyssObPwRXfhTqLOpOx9nEHj5MxTvKIzvVi7ubvlm0/s320/BABY+SQUAT.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5522452302517056306" /></a><div style="text-align: justify;">A maior dificuldade para sentar-se numa postura de pernas cruzadas não vem, como muitos pensam, dos joelhos, mas sim dos quadris.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os joelhos são uma dobradiça bidimensional: para trás e para frente. Tentar forçar os joelhos para sentar em um meio lótus, ou lótus completo, é pedir para ter complicações mais tarde. Cuide muito bem deles.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já o quadril tem uma rotabilidade muito maior. A chave para sentar-se mais confortavelmente nas posturas mais estáveis, prescritas para uma sessão de meditação, é aumentar a flexibilidade dos quadris.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Vários exercícios são bons para isto, e podem ser facilmente encontrados, ou descobertos. Quero contar apenas sobre um "exercício" específico, que por sua praticidade e excelentes resultados - contatados pessoalmente - pode ser aplicado a qualquer hora e em qualquer lugar, sem necessidade de implementos ou ambientes especiais: agachar-se.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Experimente agachar-se toda vez que precisar abaixar-se - para pegar aquela panela que fica na gaveta em baixo da pia, por exemplo. Ou mesmo para usar a privada, como é de praxe em alguns países asiáticos. (Dica: não tente se equilibrar com os dois pés na beira do vaso sanitário, qualquer escorregadela pode ser fatal.)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O simples fato de trocar as abaixadas pelas agachadas - sem nem mesmo precisar contar, tantas vezes por dia quando for preciso - provoca mudanças na flexibilidade dos quadris. No começo pode ser dolorido, travado, ou até mesmo humilhante saber que você não consegue mais fazer algo que até os bebês fazem. Não desista. Continue, e paulatinamente você terá mais facilidade.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-86110156907585357582010-07-15T16:20:00.002-03:002010-07-15T16:24:36.318-03:00Monges, monjas e sacerdotes (?!) no zen ocidental<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcoqDY7XmEyYHInV8YnsVLqoflOs_KuxiEyn89kFbEVEI9Y_y4MRg8GHBYNVGYTazFhggHdDEYVDlLqLPbzsZ_NGIJfbG21H0eR2hN5lz8sFy_RsZgKU4mAcg11HQflnJzBIHvk0v3rNA/s1600/ikkyulg.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5494215781458678674" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 232px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcoqDY7XmEyYHInV8YnsVLqoflOs_KuxiEyn89kFbEVEI9Y_y4MRg8GHBYNVGYTazFhggHdDEYVDlLqLPbzsZ_NGIJfbG21H0eR2hN5lz8sFy_RsZgKU4mAcg11HQflnJzBIHvk0v3rNA/s320/ikkyulg.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><em>Among the listservs to which I belong is one for Zen teachers in the West. Right now there is a bit of a debate going on over the usage of monk (nun) or priest for those ordained within the Japanese inheritance. This is a bone of contention because "normative" ordained Buddhist leadership follows the vinaya tradition established by the Buddha himself. A heavy claim and a heavy load for those who believe there are other reliable models of leadership on the Buddha way. </em></div><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>Principal among the upstart traditions are the Japanese ordination models, which built upon a set of precepts found in the </em><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Brahmajala_Sutra_%28Mahayana%29"><em>Brahmajala</em></a><em>, a Chinese apocraphal sutra that had and actually continues to have an enormous following throughout East Asia. In much of East Asia these vows are taken by monks, nuns and laypeople. However through a somewhat complicated set of circumstances variations on these vows become, first how monastics were ordained in Japan, starting from the thirteenth century, and, as the essay below details, morphed into what I suggest is best called a priestly model. Those ordained in this model defend their ordination (I should say we who are ordained in this model defend our ordination) as fully equal to monastic ordination.(1) In my book </em><a href="http://www.wisdompubs.org/Pages/display.lasso?-KeyValue=32903&-Token.Action=&image=1"><em>Zen Master Who?</em></a><em> I explore this a bit further. The relevant chapter is copied below...</em></div><div></div><br /><div><a href="http://monkeymindonline.blogspot.com/2009/03/monks-nuns-priests-in-western-zen.html">do blogue <em>Monkey Mind</em></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-70742639878462085282010-07-09T20:23:00.004-03:002010-07-09T20:32:25.092-03:00Zazen: a grande & maravilhosa perda de tempo<div style="text-align: justify;">Ligo a televisão, no quebrar da madrugada, para varar os olhos com imagens estalantes, e cansar os ouvidos com histórias cortadas pela metade. Uma emissora especializou-se em transmitir documentários americanos como se se tratasse da realidade do nosso país: ali eu paro. Falam sobre os centavos de dólar, os <i>pennies</i>: como cada <i>penny</i> custa quase o dobro para ser produzido - cada moeda sai por 2 centavos de dólar - e dos argumentos contra e a favor para se retirar os <i>pennies</i> - e talvez todos os centavos - de circulação na economia nacional (EUAense).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por volta dos anos 80, talvez nos 70 do século passado, nasce um menino. Ele tem cabelos escuros, e um rosto redondo. Talvez tenha se interessado por números desde pequeno, talvez não; o que sei é que, muitos anos depois, ele vai estudar no MIT, o bom e velho MIT, o MIT de onde todos saem conhecidos e reconhecidos. Podemos imaginar as suas noites em claro, chafurdando em livros, olhos cansados na tela do laptop, muitas xícaras de café. Talvez namorasse um pouco, não sei dizer. Formou-se <i>magna cum laude</i>? Também não sei. Só sei que, na primeira década do século XXI, ele aparece em um documentário sobre os <i>pennies</i> americanos. Onde foi mesmo que eu escutei isto antes? Ah, lá em cima.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Bem, ele é a favor de tirar os <i>pennies </i>de circulação. Repasso seu argumento para aqueles que me leem: um americano médio espera, em média, o seu troco médio em centavos por médios 2 segundos. Somando em média para cada médio americano, temos uma média de 2 horas e médios 40 minutos por anos (médios, descontados os anos bissextos) de esperas medianas por trocos de centavos. Como <i>time = money</i>, se esta espera média de duas horas e 40' por ano for multiplicada pelo número médio de trabalhadores americanos empregados, pelo valor médio da hora de trabalho (17 dólares), temos aí um prejuízo médio da ordem de centenas de milhões, se não mais, somente para lidar com moedinhas de centavos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é genial? Ele, certamente, poderia ser ainda mais genial se os americanos parassem de usar centavos e transferissem todo o dinheiro que deixam de movimentar para subsidiar mais pesquisas como a dele.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como ele é um cara inteligente, ele comenta rindo: ah, é claro que gastamos muito mais tempo falando no celular ou passeando no parque. Para ajuda-lo um pouco, eu acrescento mais algumas coisinhas: esperando o sinal abrir, o elevador chegar, a descarga empurrar água abaixo a nossa contribuição pós-prandial, o tempo para chegar na maquinazinha de café ruim "espresso", dando bom-dia para a faxineira, amarrando o cadarço do tênis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>[A SuperInteressante, por sinal, veiculou umas duas páginas, semanas atrás, com justamente esta ideia: quanto tempo gastamos, em média, no total de uma vida média (=70 anos), fazendo as medianas coisas rotineiras, desde dormir (23 anos) até esperar páginas baixarem na internet (esqueci).]</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se você me leu até aqui - e de onde você tirou a paciência ou o interesse, eu não sei dizer -, gastou, em média, cinco minutos para faze-lo. Congratulações: você acabou de perdê-los. Poderia estar fazendo a economia norte-americana girar, no mundo ideal dos pensadores MITeanos. Se, todo dia, você gastar cinco minutos lendo pessoas como eu, lá se foram 30 horas e meia em um ano. Você pode trocar estes cinco minutos de leitura por cinco minutos de zazen. Cinco? Melhor: faça-o 40 minutos - 20 de manhã, 20 de noite, ou um somente, mais longo. Coisa fácil, de principiante, é o tempo que praticamos nas quartas e sextas na CZBF. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Você se surpreende com as histórias do Buda Xaquiamuni que sentou-se durante uma semana debaixo da figueira? Bem, imagine-se você sentado por dez dias: isto é você, com os 40 minutos acima, por um ano - médio.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2oFpEnov7iKoVD4iHUOB2JsXAXZJWa7xkh5jdXwyd-wvDo658z8w4TSYuy9reYIde4snoCxIL1YXF6H3TTBJ1Etan5AdVE5sCOeTFUjJsaMYOke3T5pEvbURAxm8z_wMaQE7IgJZ4oo8/s320/simonszand2007zazen_140.jpg" style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5492052993278980114" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-2546825422865799262010-05-21T01:25:00.004-03:002010-05-21T01:43:02.855-03:00Temple Grandin<div style="text-align: justify;">Esta mulher é simplesmente brilhante.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Temple_Grandin">Temple Grandin</a> é autista e... bem, assistam ao vídeo para saberem mais. Ela é um dos "causos" que dá título ao livro bacana do Oliver Sacks, <i>Um antropólogo em Marte, </i>e parece que um filme sobre ela foi lançado recentemente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="http://www.ted.com/talks/lang/por_br/temple_grandin_the_world_needs_all_kinds_of_minds.html">"O mundo precisa de todos os tipos de mente"</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um dos pontos mais importantes é o trabalho dela - que deriva do fato de ela ser autista - projetando ambientes para reduzir o desconforto e o sofrimento dos animais em um abatedouro, além de suas contribuições para uma compreensão diferente da linguagem e do pensar, e do fato óbvio de ela ter lançado uma compreensão mais profunda sobre a sua própria condição de "autista". Aplaudo de pé.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Podemos sonhar e desejar um mundo sem mais "matanças", mas a curto prazo são ideias como a dela que fazem a diferença, sutil e paulatinamente. Enquanto os movimentos radicais de direitos dos animais concentram-se em ir atrás de matadores de bebês foca - e não totalmente sem razão -, o sistema de "produção" de carne, amplo e presente em todos os lugares, é onde ocorre o maior número de abates, e onde qualquer mudança para um tratamento mais "humano" dos animais é mais do que bem-vindo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">(E sim, eu detesto luz fluorescente, especialmente a branca. Não sei por quê, ela deixa tudo muito brilhante demais, e feio. Prefiro a amarela incandescente, ou luz de fogo.)</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-84555079955147302902010-05-01T22:24:00.002-03:002010-05-01T22:32:55.307-03:00Budismo na tevê local<div style="text-align: justify;">O programa <a href="http://www.tvbv.com.br/?pg=programas_mosaico"><i>Mosaico</i></a>, na TVBV, transmitiu, no domingo passado, uma edição sobre o budismo. Com entrevistas com monges e praticantes do budismo vajrayana e do budismo zen em Florianópolis, ele pode ser visto em três partes - a começar por <a href="http://www.dailymotion.com/video/xd54rq_budismo-parte-1-3-versao-completa_shortfilms">esta aqui</a> -, ou então na seleção, feita por <a href="http://pensandozen.blogspot.com/">Seikan</a>, dos "trechos zen" <a href="http://www.dailymotion.com/video/xd51n9_o-zen-na-tvbv_shortfilms?start=0">aqui</a>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Estou lá no meio.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-7304241239311584792010-03-28T21:32:00.001-03:002010-03-28T21:34:43.520-03:00<div style="text-align: justify;">A exortação para viver cada momento por si mesmo, ou "como se fosse o último - passado se foi, futuro ainda não" - pode levar a uma ansiedade. Fulano quer aproveitar cada momento como se fosse o último, e se angustia com isto, em vez de ganhar a liberdade de realmente viver cada momento. Qual o motivo disto? É uma arte, precisa de treino, e não é somente uma idéia a ser colocada na cabeça. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Viver no presente", que não equivale à "equanimidade de uma vaca" (nas palavras de um professor theravada), inclui também ver por si mesmo que cada momento não é seu, nem de ninguém: nada a ser perdido ou ganho, nem no passado presente e futuro nas dez direções. Não é preciso despedir-se dos filhos cada dia de trabalho como se não fosse voltar, ao final do dia, para casa. Isto é drama, isto é ter na cabeça "posso morrer, posso não voltar". Balela. Ganhaste a consciência do tempo presente único & insubstituível, mas perdeste o prumo. É um ganho que não vale a pena. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Simplesmente tire esta exortação da cabeça e viva cada momento por si mesmo: não é seu, nem meu, não há nada neles de mim ou teu. As coisas são como são, para que colocar mais? Podes morrer cantando <i>Vogue </i>atravessando a rua, linda e deslumbrante, cabelo nos ventos, quadris como baquetas de bateria, o asfalto tacleando o salto. <i>Strike a pose</i>. Não se surpreenda tanto, a morte pode cortar até mesmo as sílabas pela metade.</div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-14102239245546348742009-12-05T14:40:00.006-02:002009-12-05T15:10:02.090-02:00Foucault em um monastério rinzai<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqtO393uxLDdnFUfsenppaeSxl8bC2jrGO3XuKSEkjtORbpPSrYDO0duzmG4UkQVh_jWDxtJwHF4oTcif_mTGPUG4BgTTcZzQPLdqmZbnaFBdbXqK-iawrQFemdgyN-FHlxTwm7xrfHSk/s1600-h/foucaulta47.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 270px; height: 189px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqtO393uxLDdnFUfsenppaeSxl8bC2jrGO3XuKSEkjtORbpPSrYDO0duzmG4UkQVh_jWDxtJwHF4oTcif_mTGPUG4BgTTcZzQPLdqmZbnaFBdbXqK-iawrQFemdgyN-FHlxTwm7xrfHSk/s320/foucaulta47.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5411795570937378754" /></a><br /><div style="text-align: justify;"><a href="http://books.google.com.br/books?id=mFLSAAAAIAAJ&pg=PA110&lpg=PA110&dq=foucault+japan&source=bl&ots=8QYS1HZ82J&sig=-qDO-YxE280Z0NIutrdGAvm9JfM&hl=pt-BR&ei=TIUaS7qXGcWQuAerwpDRCQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CBcQ6AEwAjgK#v=onepage&q=foucault%20japan&f=false">Segue uma pequena conversa entre Michel Foucault e um monge desconhecido e Ōmori Sōgen, <i>r</i></a><a href="http://books.google.com.br/books?id=mFLSAAAAIAAJ&pg=PA110&lpg=PA110&dq=foucault+japan&source=bl&ots=8QYS1HZ82J&sig=-qDO-YxE280Z0NIutrdGAvm9JfM&hl=pt-BR&ei=TIUaS7qXGcWQuAerwpDRCQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CBcQ6AEwAjgK#v=onepage&q=foucault%20japan&f=false"><i>ō</i></a><a href="http://books.google.com.br/books?id=mFLSAAAAIAAJ&pg=PA110&lpg=PA110&dq=foucault+japan&source=bl&ots=8QYS1HZ82J&sig=-qDO-YxE280Z0NIutrdGAvm9JfM&hl=pt-BR&ei=TIUaS7qXGcWQuAerwpDRCQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CBcQ6AEwAjgK#v=onepage&q=foucault%20japan&f=false"><i>shi </i>da escola <i>rinzai </i>(página 110 em diante, em inglês e sem algumas páginas, como cabe ao GoogleBooks fazer).</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Foucault foi ao Japão na primavera de 1978, e permaneceu um tempo (indeterminado) em um monastério <i>rinzai</i>. É impressão minha ou na foto acima (<a href="http://www.michel-foucault.com/gallery/pictures/foucaulta47.html">tirada daqui</a>) ele está com um <i>rakusu</i>? Enfim. Detalhe também para a escrita na parede: houve um concurso de caligrafia?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esta época foi a transição entre <i>A história da sexualidade</i> e o seu interesse, segundo ele já antigo, na volta à antiguidade clássica: o seu seminário <i>A hermenêutica do sujeito</i>, em 1981-82, é um dos mais refrescantes trabalhos de Foucault, onde ele discute e analisa o que chama de técnicas de "cuidado de si" dos estóicos, epicuristas e seu tranbordamento e mudança no cristianismo nascente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste pequeno bate-papo, um tanto carente do vigor foucaultiano, para quem o conhece (educação e modéstica nipônica? ou Foucault simplesmente "ficou zen"?), ele discute, por cima, a diferença entre o misticismo cristão e misticismo zen ("o misticismo em si sendo diferente, mas as técnicas sendo parecidas"), a universalidade do zen, o Ocidente/Europa e a sua "crise" moderna - morte da(s) revolução(ões), fim do marxismo, e assim vai.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ele estava, evidentemente, mais a fim de perguntar do que de responder.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dizem os passarinhos que há uma foto dele zentado em zazen: quem a tiver, me mande, por puro fetiche.</div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-165484053408566491.post-51800509653315080652009-10-30T16:03:00.002-02:002009-10-30T16:29:01.783-02:00As irrespondidas (uma adaptação)<div></div><blockquote><div style="text-align: justify;">No cânon páli <a href="http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN63.php">há um episódio</a> (<a href="http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/mn/mn.063.than.html">em inglês</a>) em que um <i>bhikkhu </i>pensa com os seus botões: "o Honrado não falou se o universo é eterno ou não, infinito ou não, se o corpo e alma são o mesmo, ou não o são, se um <i>Tathagata </i>existe depois da morte, ou não, ou existe e não existe, ou nem existe e não existe. Não aceito. Se ele não puder me dar uma posição a respeito destas questões eu abandonarei o treinamento."</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E assim ele se dirige para o <i>Tathagata </i>e, feitas as devidas amabilidades, desfia o rosário: "se o Honrado sabe que cada uma das afirmações acima é correta, ele pode dizê-lo. Se ele sabe que é incorreta, idem. Mas, se ele não sabe, a coisa mais óbvia a ser feita é admitir 'Eu não sei'". E ameaça abandonar o treinamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Alguma vez", pergunta Buda, "eu te disse que, praticando, vivendo a vida santa comigo, eu te responderia tais questões?"</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Não", responde o <i>bhikkhu </i>("não, senhor", na tradução. Sempre esqueço destes detalhes.)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"E alguma vez você me disse que iria viver a vida santa comigo se, em retorno, eu te dissesse tais coisas?"</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Não (senhor)".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Então, seu tolo, por que reclamas? Se alguém colocasse tais condições para a sua prática ele morreria e estas coisas ainda ficariam sem ser ditas ou declaradas pelo <i>Tathagata</i>. É como um homem atingido por uma flecha envenenada que, uma vez na presença do médico, dissesse 'Ninguém vai tirar esta flecha antes que eu saiba tudo sobre a pessoa que a atirou, o material do que é feita, e de como foi atirada'. O homem morreria e as perguntas continuariam sem resposta. [pelo menos para ele]</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"A analogia é a mesma: se alguém disser 'eu não praticarei com o Honrado se ele não me disser estas coisas', este alguém morreria e tais coisas não seriam ditas ou declaradas pelo <i>Tathagata</i>. A prática, a vida santa, não depende de cada uma destas concepções; independente de cada uma delas ser verdade ou não, ainda há nascimento, envelhecimento, morte, sofrimento, lamentação, dor, desespero e ansiedade, cujo fim eu faço ser conhecido aqui e agora.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Então lembre-se do que eu disse como dito, e do que eu não disse como não dito. Sobre todas estas coisas eu não disse nada, não declarei nada. E por que eu não disse nada? Porque não se relacionam com a meta. O que foi que eu disse, que eu declarei? <i>Dukkha</i>, sua origem e seu fim. E por que os declarei? Porque levam à meta. Então lembre-se de que o que eu disse está dito e o que eu não disse não está dito."</div></blockquote><div></div><div style="text-align: justify;">Este é um episódio bastante conhecido na literatura budista, e que carrega um símile ainda mais conhecido, o símile da flecha. As questões irrespondidas, em número de 10, aqui, foram ampliadas para 14 - somente adicionando "os dois" ou "nenhum dos dois" às duas primeiras perguntas sobre o universo/cosmos. Ficaram conhecidas como as "14 questões irrespondíveis".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Eu questiono o epíteto "irrespondíveis", e sugiro "irrespondidas". Afinal, esta foi a postura do Buda: a ausência de resposta não necessariamente se alinhava com a impossibilidade de conhecimento. Eu, tampouco, imagino que são necessariamente questões que encontrem respostas - pelo menos tão facilmente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O importante sublinhar aqui é que este sutra é muitas vezes citado para dizer: "abandone todo o questionamento filosófico, toda a especulação metafísica, pois elas não servem para nada", que muito facilmente pode evoluir para um "não pense", alimentando ainda mais uma postura anti-intelectual encontrada em alguns lugares de prática.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É preciso entender um pouco das sutilezas do diálogo. Se as questões são irrespondíveis, se elas têm ou não resposta, isso não entra em jogo - a não ser para o <i>bhikkhu</i>, provavelmente em sua sede de entendimento, da qual compartilho. O importante é que as questões foram irrespondidas, de um modo bem claro, e por um motivo mais claro ainda, que o Buda relata ao final: o que eu declarei foi <i>dukkha</i>, sua origem e seu fim, a meta que leva ao desprendimento, à paz, ao incondicionado. Para isso, tais questões não ajudam, não são meios hábeis. O que eu disse eu disse, e o que eu disse eu não disse.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Lembremos que, em vários momentos dos sutras budistas, vemos o Buda conversando, dialogando, com algumas das filosofias em voga na sua época: o jainismo, a filosofia <i>samkhya</i>, e diversos outros bramanismos já esquecidos pelo tempo, além dos "hereges". O seu método certamente não é dialético: Buda não quer chegar à definição de algo saindo da dúvida, pois ele já possui a "sabedoria", o "olho que vê", a sabedoria do fim de <i>dukkha</i>, e uma prática para que cada um que deseje desenvolva isto. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por isso muitas das conversas do Buda com Fulanos ou Sicranos têm este sabor característico: ele sempre argumenta para demonstrar a diferença de tal e tal ponto de vista com relação ao <i>Dhamma</i>, e como tal e tal ponto de vista pode ser maléfico - ou simplesmente inócuo - para o fim de <i>dukkha</i>, e <i>c'est ça</i>. Parece um pouco dogmático, o discurso de alguém que está convicto de possuir uma verdade e quer persuadir, e no fundo é isto mesmo, pois para o budismo o <i>Dhamma</i> é um só - o <i>Dhamma </i>do fim de <i>dukkha</i>, e não uma explicação do mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Então não é surpresa que o Buda seja interrogado pelo <i>bhikkhu </i>como alguém que deveria saber sobre estas coisas "cosmológicas" - e se não soubesse que declarasse ignorância, ora pois, que ela não é pecado. E talvez ele, Buda, não soubesse mesmo responder, eu chuto (embora a literatura nos diga que ele possuía o "olho do <i>Dhamma</i>"). Eu pessoalmente não ficaria infeliz com isto, até mais contente, por me sentir mais próximo deste homem - o sentimento de proximidade é fundamental para mim, não sou atraído por transcendências.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Algumas outras pessoas destacam o fato que Buda prossegue sem responder para evitar cair nos extremos do "é" e "não é", do "eternalismo" e do "niilismo", coisa que vemos ele fazer mais explicitamente em outros sutras vizinhos. A questão é que, para o Buda, qualquer concepção determinada sobre a "realidade" é problemática, pela própria natureza dos conceitos e ideias.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Trago um trecho de <a href="http://www.acessoaoinsight.net/sutta/MN2.php">outro sutra</a> para apontar esta questão e uma outra (paralela, sem dúvida):</div><blockquote><div style="text-align: justify;">Ocupando-se com coisas que não merecem atenção e não se ocupando com coisas que merecem atenção, ambas, as impurezas que ainda não surgiram, surgem e as impurezas que já surgiram, aumentam.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">7. É desta forma que ela se ocupa sem sabedoria: ‘Eu existi no passado? Não existi no passado? O que fui no passado? Como eu era no passado? Tendo sido que, no que me tornei no passado? Existirei no futuro? Não existirei no futuro? O que serei no futuro? Como serei no futuro? Tendo sido que, no que me tornarei no futuro?’ Ou então ela está no seu íntimo perplexa acerca do presente: ‘Eu sou? Eu não sou? O que sou? Como sou? De onde veio este ser? Para onde irá?’</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">8. Quando ela se ocupa dessa forma, sem sabedoria, uma entre seis idéias surgem nela. A idéia de que ‘um eu existe em mim’ surge como verdadeira e consagrada; ou a idéia de que ‘um eu não existe em mim’ surge como verdadeira e consagrada; ou a idéia de que ‘eu percebo o eu através do eu’ surge como verdadeira e consagrada; ou a idéia de que ‘eu percebo o não-eu através do eu’ surge como verdadeira e consagrada; ou a idéia de que ‘eu percebo o eu através do não-eu’ surge como verdadeira e consagrada; ou então ela tem uma idéia como esta: ‘É esse meu eu que fala e sente e experimenta aqui e ali o resultado de boas e más ações; mas esse meu eu é permanente, interminável, eterno, não sujeito à mudança e que irá durar tanto tempo quanto a eternidade.’ Essas idéias especulativas, bhikkhus, se denominam um emaranhado de idéias, uma confusão de idéias, idéias contorcidas, idéias vacilantes, idéias que agrilhoam. Aprisionado pelas idéias que agrilhoam, a pessoa comum sem instrução não se vê livre do nascimento, envelhecimento e morte, da tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero; ela não se vê livre do sofrimento, eu digo.</div></blockquote><div></div><div style="text-align: justify;">Dois momentos: o momento de assombro, perplexidade, dúvida - o mesmo assombro que Platão caracteriza como o começo da filosofia, o necessário para o filosofar, e que Aristóteles deseja sanar por via da enteléquia. É o mesmo assombro básico que caracteriza, para Heidegger, a pergunta fundamental da metafísica: <i>por que as coisas são, em vez de simplesmente não ser?</i> Vale dizer que, em muitos momentos, é o mesmo assombro e dúvida e também exasperação que leva à procura do barquinho budista. O budismo nunca aparece do nada, veja o próprio exemplo de Siddharta.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Segundo momento: o momento da concepção de uma ideia, de uma visão; "isto é assim, aquilo é assado". Ideias que agrilhoam, que prendem, diz o Buda, e que não levam à meta, ao fim de <i>dukkha</i>; são um obstáculo, devem ser removidas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora Buda apresente o primeiro momento como o de pessoas que deixam as impurezas tomar conta da mente, pessoas sem sabedoria, eu me pergunto se tal momento não é necessário, ou, pelo menos, bem-vindo - para pessoas sem sabedoria como a maioria de nós. Momento de dúvida, de assombro, momento de abertura do pensamento - e com pensamento, aqui, não quero dizer somente o encadeamento de idéias e palavras.</div>Unknownnoreply@blogger.com6