quarta-feira, 1 de abril de 2009

Traduções


As traduções brasileiras de textos do zen deixam muito, muito a desejar. Neste, e nos próximos textos, eu vou esclarecer o porquê.

Em muitas delas, eu somente posso acompanhar o processo da metade para a frente: do japonês, que não entendo, ele vai para o francês ou inglês, digamos, e depois é retraduzido para o português - e é neste segundo passo que consigo perceber a inépcia, em muitos casos. Fico imaginando as barbáries que podem acontecer nas primeiras traduções "oriente-ocidente" e temo e tremo.

Eu brinco, evidentemente. Costumo partir do pressuposto que os tradutores são pessoas que desejam traduzir o texto e possuem, além de um certo conhecimento formal do processo, uma idéia do que o texto fala, para o momento - que certamente aparecerá - em que o tradutor escreverá algo de seu, por não poder traduzir sem trair.

A questão é que más traduções podem, muitas vezes, ser bem menos desejáveis do que texto nenhum. Para quem tem paciência de encarar o texto supostamente mal-traduzido e quiser pesquisar e saber mais, há, pelo menos, um pouco de tesão e divertimento no meio. É, divertimento intelectual, pode soar estranho mas há. Mas para aqueles que querem ler, pura e simplesmente, e ter acesso ao que um mestre do zen disse, ou deixou de dizer, pode ser um grande impedimento.

Penso especialmente em Dogen. Dogen é um escritor fabuloso, do pouco que pude captar, de um estilo único e delicioso que interessaria, em alguns casos, até mesmo a quem não quer ouvir falar de budismo ou zen. Textos claros e simples, escritos para discípulos, leigos ou não, misturam-se com trechos de poesia e técnica e visão assustadoramente modernas, e dez páginas adiante você pode encontrar uma confissão no melhor estilo augustiniano, para então, em outro lugar, ver instruções detalhadamente obsessivas sobre como escovar os dentes e demais quetais de um mosteiro.

(continua...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário