sábado, 25 de abril de 2009

Plena Atenção

Quando "plena atenção" não é mais um conceito, a "plena atenção" existe, é "transmitida" e praticada.

Quando a /plena atenção/ é um conceito, ela pode ser imaginada, idealizada, e pode dar margem a pensamentos e fantasias diversos, e a diversas modificações e versões e perversões.

O blábláblá sobre viver no momento não passa de blábláblá; o zen at war e o uso da /plena atenção/ para facilitar a morte e a covardia das pessoas é um bom exemplo, além da idéia corrente de que praticar a "plena atenção" é apagar tudo da "cabeça", inclusive o desejo.

Ora, se for este o objetivo, não ter mais desejos e pensamentos, isto acontecerá, um dia ou outro - a morte virá, e, caso o azar de você-mesmo ter "reencarnado" ocorra, bem, a morte virá novamente. O sol vai virar gigante-vermelha, os oceanos ferverão lentamente, Madonna não mais "cantará" Hung Up, o universo como-o-conhecemos vai rachar ou romper ou ruminar ou regredir, talvez outro surja, talvez já tenha surgido, talvez nunca mais.

Vê? Tal peso já foi tirado dos seus ombros. Você já está, de antemão, morto. Não se preocupe com isto.

É este momento que não existe, no final das contas, cortado de um "antes" e "depois", que é o corte da lâmina que corta em um. Não é necessário fazer nada com ele, mas tendo você presciência de que tais "momentos" se repetirão durante "toda uma vida", a pergunta "o que fazer?" nada mais é que natural. E é a primeira pergunta que um "budista" - ou qualquer pessoa razoável - pode fazer, e comumente se faz: "o que fazer com este momento?"

E é então que toda a confusão começa.

5 comentários:

  1. O que fazer? O que fazer? Heheheheehe. Tem sempre aquela possibilidade de seguir cenouras, mas outras coisas são possíveis também, ou não?

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  2. Você não acha que algo chamado "Dharma" também pode ser uma Grande Cenoura?

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  3. Sim, tudo pode ser cenoura, e o teu post de cima da a resposta. Praticar sem a idéia de ganho (o que realmente pode ser isso?????), fazer o zazen que não serve para nada, como a arte, não serve para nada, como a vida, pra que serve?

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  4. Acho que pelo menos pra mim é cenoura sim!
    Mas se eu "percebece que é estúpido procurar por fogo com uma luz de lanterna, O arroz não demoraria tanto para ficar pronto!" (comentário do Caso 7 do Mumonkan).
    Ainda não perdi a mania de amarrar correntes nas pernas.

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  5. (Seigen): O que realmente pode ser isto? O zazen que é bom-para-nada aprofunda-se nos ossos e na carne, mas e quando então nos levantamos do zafu e temos que fazer algo, serve ou não serve para nada?

    (João): hauHAUhauHAUhauHAUHuahUHA
    Maravilhoso, o comentário do Mumonkan.

    Recebi hoje um mail com uma "apreciação crítica" de um doutor muçulmano sobre o budismo. Um artigo sóbrio e contido, nada das violências talvez esperadas pelos meus preconceitos.

    Só uma parte ele fala que o budismo é "auto-contraditório"; ei-la.

    "This Philosophy of Buddhism is self-contradictory or self-defeating because the third truth says "suffering and misery can be removed by removing desire" and the fourth truth says that 'desire can be removed by following the Eight Fold Path'.

    Now, for any person to follow Buddhism he should first have the desire to follow the Four Noble Truths and the Eight Fold Path. The Third great Noble Truth says that desire should be removed. Once you remove desire, how can we follow the Fourth Noble truth i.e. follow the Eight Fold Path unless we have a desire to follow the Eight Fold Path. In short desire can only be removed by having a desire to follow the Eight Fold Path. If you do not follow the Eight Fold Path, desire cannot be removed. It is self contradicting as well as self-defeating to say that desire will only be removed by continuously having a desire."

    O argumento é um tanto simplista e faz uso de um uso muito restrito do palavreado para tirar uma conclusão "lógica", mas no fundo não é este um dos pontos principais? Sem querer ele nos apresenta um dos melhores koans possíveis, e aprofunda o budismo como poucas pessoas o fazem.

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