sexta-feira, 27 de março de 2009

Tentação

"Transformemos aquela grande montanha nos altos do Himalaia em uma montanha de ouro, Siddharta, e que todos os homens possam ter ouro e não passar necessidades. Que tal?"

"Uma montanha destas não é o suficiente para satisfazer de uma vez por todas uma única pessoa, Mara."

quinta-feira, 19 de março de 2009

Pequeno truque heurístico para uma mais tranquila e razoável prática

Se você quer uma resposta honesta sobre o "zen", pergunte para o seu amigo o que o zen não é. O tempo necessário para construir uma resposta afirmativa, neste caso, aumenta exponencialmente, ao invés de uma pergunta positiva ("o que é..."), mas diminui drasticamente os riscos de você começar a pensar coisas esdrúxulas.

E, enquanto isso, você vai praticando para tentar responder "o que é". Assim esperamos.

E você, o que você está esperando? Dhyana djá!

domingo, 15 de março de 2009

Figueira

Não adianta, minha gente, não adianta: ao que tudo indica, a figueira "centenária" da praça XV, em Floripa, não garante o Despertar.

Trata-se, ao meu ver, de uma ficus macrophylla, a "grande figueira estranguladora", e não uma ficus religiosa, a "árvore Bo(dhi)", a figueira pipal. Mas um dia ainda passo por lá e dou uma olhada nas folhas, que me responderão com clareza. Quem sabe então, em vez de dar sete (ou três) voltinhas para encontrar o amor de nossas vidas, possamos dar umas 49 dhyanadas, para despertar em nossas vidas.

Sentados nos banquinhos de madeira, certes, para não chamar muita atenção ao pular a cerquinha.

A árvore bodhi suscita uma certa admiração dos povos de países com população budista. O templo Mahabodhi, em Bodhgaya, encontra-se no suposto lugar onde Siddharta sentou-se debaixo da tal figueira. Lá encontra-se uma figueira que é dita ser da mesma linhagem figóica que a original. Outra figueira-filha encontra-se no Sri Lanka.

Uma árvore grandiosa, frondosa, verde - aquele verde oliva de lugares com sol farto e claro, quer coisa melhor para um andarilho? E descontemos toda aquela mitologia e aquela carga simbólica de árvores grandes e raízes profundas e copas siderais e fonte do rio da vida e eixo do mundo.

Siddharta era um moço teimoso e sedento: não sairei debaixo desta árvore enquanto não responder a minha pergunta!

Como queirais, como queirais.

Figueira

Não adianta, minha gente, não adianta: ao que tudo indica, a figueira "centenária" da praça XV, em Floripa, não garante o Despertar.

Trata-se, ao meu ver, de uma ficus macrophylla, a "grande figueira estranguladora", e não uma ficus religiosa, a "árvore Bo(dhi)", a figueira pipal. Mas um dia ainda passo por lá e dou uma olhada nas folhas, que me responderão com clareza. Quem sabe então, em vez de dar sete (ou três) voltinhas para encontrar o amor de nossas vidas, possamos dar umas 49 dhyanadas, para despertar em nossas vidas.

Sentados nos banquinhos de madeira, certes, para não chamar muita atenção ao pular a cerquinha.

A árvore bodhi suscita uma certa admiração dos povos de países com população budista. O templo Mahabodhi, em Bodhgaya, encontra-se no suposto lugar onde Siddharta sentou-se debaixo da tal figueira. Lá encontra-se uma figueira que é dita ser da mesma linhagem figóica que a original. Outra figueira-filha encontra-se no Sri Lanka.

Uma árvore grandiosa, frondosa, verde - aquele verde oliva de lugares com sol farto e claro, quer coisa melhor para um andarilho? E descontemos toda aquela mitologia e aquela carga simbólica de árvores grandes e raízes profundas e copas siderais e fonte do rio da vida e eixo do mundo.

Siddharta era um moço teimoso e sedento: não sairei debaixo desta árvore enquanto não responder a minha pergunta!

Como queirais, como queirais.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ar também dá barato

Lembrança: Coen sensei relata a sua conversa com meninos de rua, cheiradores de cola: por que, ao invés de cheirar a cola, não cheirar o ar? Puxar o ar, inspirar profundamente, como se estivesse cheirando cola, e perceber que o ar também dá barato?

Neste exemplo eu encontro a sinceridade e a "humildade" de um excelente meio hábil, ou de uma intervenção "psicoterapêutica", ou uaréva. É simples, é contextual, é olho no olho, sem preconceitos. Cheirar cola é vida, inspirar ar é vida.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Fora da correnteza

De vez em quando eu sinto o estranho sentimento que, praticando o zen, faço algo que vai "contra a correnteza": esta forte correnteza da vida cotidiana, da nossa cultura, dos valores que estão circulando pelas ruas e que, queremos ou não, fazemos parte. Inegável.

Como se eu tivesse importado uma prática secreta de um outro mundo, dos selenitas talvez?, e praticasse em uma espécie de espaço separado ou segredo.

Isto é um problema. Um problema de forma, creio eu. O zazen "puro" não tem nenhum destes problemas, mas dificilmente se "faz" um zazen puro, então isto também é inevitável. O corpo foi praticamente modelado de forma diferente, a herança cultural é a nossa mais premente companheira. Observemos nossos sábios e filósofos e contemplativos e donas-de-casa e coletores de lixo para perceber isto.

Talvez sejamos (talvez não) os primeiros a encarar dhyana e samadhi sem proteções, sem joelheiras e capacetes, já de saída. E não creio que tenhamos que "desconstruir" nosso pensamento para depois ter que adotar outro, japonês ou chinês ou hindu, mais conveniente.

Claro que podemos, mas para quê?