Há uma dificuldade bem clara em falar do "dharma": qualquer declaração fixa sobre ele parece sempre a ponto de resvalar e surgir em um outro lugar transmutada exatamente no contrário, que por sua vez pode ir passear nas ilhas Cayman e deixar você em apuros com a Receita.
É fácil instruir os outros a respeito do zazen - como fazê-lo, que problemas encontrar, como lidar com eles. Aliás, instruções sobre o "verdadeiro zazen" da nossa escola Sōtō - o shikantaza - acabam sempre monotemáticas e soam as mesmas em todo lugar, diferenciando-se somente pelo estilo peculiar de cada pessoa que instrui.
Graças ao meu bom daimon eu somente instruo pessoas com relação ao zazen, e nada mais. Posso ir apenas até onde a minha experiência pessoal sugere similaridades; piso somente em terreno conhecido, e sugiro a outros que venham conhecê-lo.
Alguém que tenta falar sobre o "dharma" sem conhecê-lo, por mais inteligente que seja, acaba sempre se metendo em confusões - verbais ou não. "Conhecer o dharma" não se trata de conhecer uma doutrina ou teoria, e de saber argumentar da "maneira certa" com relação a ele: conhecer o dharma é ter os seus olhos trocados por olhos de um Buda, como dizia Dōgen zenji.
(Neste sentido as "palestras do dharma" ou teishō de um professor podem soar como óbvios, ou até mesmo tolos.)
Instruir os outros, mesmo da forma mais básica, é como cortar caminho em mata cerrada, abrir picadas. Você é ora cercado de um lado, ora de outro, ora precisa forçar adiante, para não ficar preso - mesmo sem ter certeza se aquele era realmente a maneira certa. ora você precisa abrir caminho para si mesmo, ora abrir para outros que vêm atrás, ora seguir atrás de outrem, mesmo contra a vontade. Há caminhos conhecidos, outros desconhecidos; trilhas batidas e paredões de verde.
Já o verdadeiro zazen é como chegar em casa: nada mais a fazer, nem a dizer.
E isso não porque você está morto, ou em coma!
É por isso tudo que vou continuar sentando em zazen.
ResponderExcluirMuito grata.
Gasshô.
Rosana.