domingo, 28 de março de 2010

A exortação para viver cada momento por si mesmo, ou "como se fosse o último - passado se foi, futuro ainda não" - pode levar a uma ansiedade. Fulano quer aproveitar cada momento como se fosse o último, e se angustia com isto, em vez de ganhar a liberdade de realmente viver cada momento. Qual o motivo disto? É uma arte, precisa de treino, e não é somente uma idéia a ser colocada na cabeça.

"Viver no presente", que não equivale à "equanimidade de uma vaca" (nas palavras de um professor theravada), inclui também ver por si mesmo que cada momento não é seu, nem de ninguém: nada a ser perdido ou ganho, nem no passado presente e futuro nas dez direções. Não é preciso despedir-se dos filhos cada dia de trabalho como se não fosse voltar, ao final do dia, para casa. Isto é drama, isto é ter na cabeça "posso morrer, posso não voltar". Balela. Ganhaste a consciência do tempo presente único & insubstituível, mas perdeste o prumo. É um ganho que não vale a pena.

Simplesmente tire esta exortação da cabeça e viva cada momento por si mesmo: não é seu, nem meu, não há nada neles de mim ou teu. As coisas são como são, para que colocar mais? Podes morrer cantando Vogue atravessando a rua, linda e deslumbrante, cabelo nos ventos, quadris como baquetas de bateria, o asfalto tacleando o salto. Strike a pose. Não se surpreenda tanto, a morte pode cortar até mesmo as sílabas pela metade.

2 comentários:

  1. E aí Seigaku!
    Nem movimento planetário nem campo de elétrons, nem "Equanimidade de vaca" nem "alopração de chihuahua que ficou preso a noite toda" (não queira saber) - acho que ambos são desperdício de potencial para um ser humano :)

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  2. Eternas crinaças brincando com os fenômenos.

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